Sentimentos e emoções - o que os distingue?

18-05-2012 16:28

 

Por Caruso Samel – Filial Butantã

 

Só no final da década dos anos 90 os estudos sobre os sentimentos e as emoções ganharam novas dimensões. Isso devido à complexidade no entendimento dos sentimentos, emoções e paixões humanas, o que se torna difícil distingui-las entre si. Acresce-se a isso, a grande dificuldade em distinguir as emoções básicas das derivadas.

Atualmente, para estudar e dimensionar a personalidade humana os psicólogos adotam modelos que incluem três ou mais fatores. É fácil compreender que a complexidade desses modelos aumenta com o número de fatores.

            Os psicólogos norte-americanos adotam, de preferência, um modelo bem aceito que leva em conta três fatores, a saber, psicoticismo, extroversão e neuroticismo, conhecido com o nome de Sistema PEN (formado pelas iniciais dos fatores) de Avaliação da Personalidade. Nesse quadro, estes termos técnicos têm os seguintes significados. O fator psicoticismo exprime uma tendência da pessoa a ser solitária e insensível, mas a pessoa aceita os costumes sociais.. Ele abrange características como agressividade, impessoalidade, egocentrismo, frieza, impulsividade, criatividade, falta de empatia, obstinação e anti-sociabilidade. Já a extroversão inclui fatores primários de vitalidade, atividade, sociabilidade, assertividade, busca de sensações e o sentido de dominância. O seu oposto, a introversão caracteriza-se pela disposição a ser quieto, fechado, reservado, reflexivo e evitar riscos. Finalmente, o fator neuroticismo, ligado ao sistema nervoso, caracteriza alguns sentimentos como a baixa autoestima, ansiedade, depressão, sentimentos de culpa, tensão, irracionalidade, timidez, tristeza e emotividade. Assim, neste complexo contexto, o Sistema PEN leva em conta problemas relacionados às emoções, sentimentos, pensamentos e comportamentos.

A análise que se segue, envolvendo quatorze autores, que adotam o Sistema  PEN, inclui aspectos, tais como: tendências à ação, expressões faciais universais, formas imediatas de ação, conteúdo embutido, envolvimento corporal, inter-relação com os instintos, emoções não-apreendidas, sem conteúdo específico, relacionadas aos processos biológicos adaptativos e densidade de reação. Eis o quadro-resumo final:

 

  • Citado por oito 8 dos 14 autores: medo
  • Citados por seis 6 dos 14 autores: desgosto, ira e tristeza
  • Citado por cinco 5 dos 14 autores: surpresa
  • Citado por quatro 4 dos 14 autores: alegria
  • Citadoa por três 3 dos 14 autores: felicidade, interesse e raiva
  • Citados por dois 2 dos 14 autores admiração, amor (material), desejo e vergonha
  • Citados pelo menos por um 1 autor dentre os 14 autores: altivez, ansiedade, antecipação, aversão, compaixão, conteúdo, coragem, culpa, desespero, doçura, dor, ódio, pânico, pesar, prazer, rejeição, submissão e terror.
  • Total de emoções citadas: pelos quatorze autores trinta e três (33)

 

            Fomos buscar no capítulo IX do livro Elementos de Psicologia-volume 2, de David Krish e Richard Krutchfield, páginas 265 – 307 uma classificação bem mais simples para as emoções. Os aspectos envolvidos são apresentados, a seguir:

 

  1. Emoção (conceito)

Tudo aquilo que causa um estado de excitação no organismo, através das amígdalas cerebrais. Estas são as nossas sentinelas localizadas no sistema límbico, verdadeiro  “portão de entrada do cérebro” no que se refere aos sentimentos e emoções.

  1. Componentes da Emoção

Toda emoção apresenta seus próprios componentes ou características. Tomemos por exemplo o sentimento de cólera. Nele, temos a experiência emocional (o próprio sentimento de cólera), o comportamento emocional ou a reação à provocação (no nosso exemplo, a pessoa pragueja e ataca) e as alterações fisiológicas correspondentes (neste exemplo, o sangue sobe à cabeça). Aqui o comportamento reflete as consequências e abrange os estados motivadores e emocionais.

  1. A Experiência Emocional

Segundo o autor citado, a experiência emocional usa o conceito de “dimensões gerais” e tende a se organizar como um procedimento, exibindo os seguintes efeitos, que podem ser cumulativos:

  • Intensidade do Sentimento

Quanto mais intensa for a experiência emocional mais a emoção controla o “eu”. No exemplo já citado da cólera, sentimos inicialmente uma leve irritação e, da irritação podemos chegar ao estado de fúria. Já com a alegria, sentimos uma suave satisfação e desta podemos chegar a uma exaltação empolgante, um estado de euforia com irrigação cerebral pelas endorfinas.

  • Nível de Tensão

 Aqui estamos falando dos impulsos para a ação envolvendo o “eu”, bem       como, emoções ativas e emoções passivas. São emoções ativas ou psicomotoras, por exemplo, fugir de um objeto, dançar de prazer, etc.. São emoções passivas, por exemplo, a pessoa ficar parada, como na tristeza ou na depressão, que são passivas, mas podem ser muito intensas. A intensidade e o nível de tensão podem relacionar-se. A diferença entre uma emoção ativa e passiva está no grau de excitação e na força dos impulsos, que pode ser, por exemplo, grande e profunda.  

  • Caráter Hedonista

Refere-se ao prazer ou desprazer que a emoção provoca. Neste sentido, as emoções podem ser: agradáveis, como por exemplo, a admiração, a surpresa, a piedade ou desagradáveis, como a tristeza, a vergonha e o medo. É óbvio que a intensidade influi no caráter hedonista, como por exemplo, a cólera pode ser branda ou intensa. De outro lado, o autor alerta que existem paradoxos, como por exemplo, a fome, que começa agradável e se torna desagradável quando se intensifica. O medo é outro exemplo, agora inverso, podendo ser excitante e acabar em muita alegria, como no caso de uma experiência na montanha-russa.          

  • Grau de Complexidade

As emoções podem ser simples e diretas e complexas. São simples e diretas, por exemplo, o medo diante de um susto, a pura tristeza diante do cãozinho morto ou a pura alegria diante de um prêmio ganho na loteria. São complexas, por exemplo, uma emoção qualificada como “indescritível”, que não nos permite dizer se é “agradável” ou “desagradável”

                                     

  1. Conclusão

A riqueza e a sutileza da experiência emocional desafiam a linguagem humana existente e deixam os estudiosos do assunto surpresos e embaraçados..

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal A Razão de Fevereiro/2012