Querer é poder
Por Caruso Samel – Filial Butantã - SP
Para iniciarmos, vamos nos valer de informações encontradas nos dicionários, onde a palavra “poder” tem dois sentidos: 1)poder é ter controle, qualquer forma de controle, sobre os outros e, 2)poder é habilidade de fazer e agir. Assim, fica fácil concluir que a opção positiva é a segunda, que sempre estará associada à ideia do bem e do amor e tudo devemos fazer para nos alinharmos com essa corrente. Devemos sempre preferir nos alinhar com o AMOR, que é o verdadeiro PODER, como instrumento de união benfazeja e fortalecedora.
Existe muita força na expressão "querer é poder". Na verdade, vemos nela um forte vínculo entre vontade, persistência, competência e responsabilidade, tudo isso sob o domínio da inteligência emocional. Esta, por sua vez, resulta da força do espírito humano quando este coloca sua vontade exclusivamente para o bem. Na verdade, a condição necessária para que o querer se transforme em efeito positivo é que o seu objeto seja lícito e justo. Assim, fica bem claro que “querer” só é “poder” quando a vontade soberana atua sob o comando da força da razão. Mas, mesmo esta, precisa escudar-se nos sentimentos positivos de persistência e competência. Isto, para não deixar dúvida às criaturas de que todo este processo decorre da responsabilidade inerente ao espírito vencedor das pessoas sérias, que encaram a vida com toda a clareza e no seu melhor sentido, sempre objetivando o cumprimento de seu dever.
Do exposto, fica claro que a expressão "querer é poder" tem seus limites apenas quando invade a esfera de ação de outra pessoa, isto é, tenta operar contra o direito de seu semelhante, causando-lhe ofensa séria ou dano material e/ou moral. Por isso, para alcançarmos a meta visada na expressão "querer é poder", não basta termos um querer forte, é preciso que ele seja justo, reto e lícito. Quando, para atingir esta meta, precisarmos compelir outra(s) pessoa(s), qualquer que seja a sua condição pessoal, estaremos desrespeitando o seu direito face a terceiras (direito erga omines). E nós sabemos muito bem que os nossos semelhantes precisam ser respeitados na sua integridade física e moral, seja em relação ao direito natural ou ao que decorre das leis sociais vigentes. Então, quando o objeto do nosso querer é um ser humano, homem ou mulher, nem sempre querer é poder, necessariamente. Mas, poderá sê-lo, respeitadas as condições já mencionadas através da confiança com que nos apresentemos face ao nosso semelhante, confiança essa reforçada pelo nosso caráter.
Segue-se, pois, que para querermos com valor precisamos saber querer coisas possíveis, atuando sempre com persistência e competência. Estes dois sentimentos têm o papel de convencer as pessoas mais resistentes e neles está o segredo para alcançarmos resultados positivos, sem os quais, nossa empreitada não será bem sucedida. Assim, aqueles que têm persistência ao colocarem suas idéias em prática conseguem muito mais que as pessoas que desanimam ao primeiro embate. Convém, contudo, lembrar que não basta aparentarmos uma persistência obcecada, sem nenhuma validade prática e moral, caso em que a condição emocional resultante da inteligência emocional não se encontrará presente. Nós temos que estar prontos para o que, de fato, quisermos de nós mesmos e dos outros.
Precisamos, também, estar atentos para não sofrermos as conseqüências de "querer", mas não "poder". Isto pode parecer uma contradição ao título deste tema, mas acontece com freqüência, causando às criaturas sofrimentos como dores de cabeça, insônia, falta de ar, palpitações cardíacas, suores frios ou calafrios, um verdadeiro sufoco emocional. Estes são efeitos psicossomáticos decorrentes da diferença que existe entre um simples desejar e um querer vigoroso, sustentado pela vontade firme e pela possibilidade do objeto do querer. É o nosso senso de autocrítica e a avaliação criteriosa que devemos fazer de nossa força interior, bem como, da possibilidade de transformar desejo em querer que faz a diferença. Por exemplo, precisamos estar prontos para o amor, sem medo ou ciúme, esforçar-nos para não cairmos nas malhas da paixão, que traz insegurança, e criarmos as condições necessárias para tudo dar certo. Livrando-nos do encantamento e da paixão, podemos amar de verdade.
Nunca é demais destacar a influência do medo na vida das criaturas. Embora pareça um paradoxo, incrível mesmo, muitas pessoas, quando tudo vai bem, começam a ficar com muito medo de que alguma coisa de ruim aconteça ou esteja para acontecer. Na verdade, estão procurando pêlo em casca de ovo e acabam achando, ruminando pretextos pequeninos para justificar sua falta de coragem em manter uma situação que alcançou, muitas vezes lutando contra grandes obstáculos. Daí, decorrerem os transtornos psicológicos, já referidos, que somatizam no organismo os seus efeitos nefastos, além de causar falta de sono e perda de apetite. Espiritualmente falando, as criaturas ficam obcecadas, não pensam em outra coisa e, portanto, não conseguem decidir coisa nenhuma que possa aproveitar-lhes. Dizemos, então, que não estão emocionalmente preparadas e, muitas se tornam até espiritualmente desequilibradas ou obsedadas. Dessa forma, convenhamos que "querer" não é "poder", pois não se trata de "querer", mas de perturbações absurdas provenientes de desejos obcecados.
Vale à pena destacar que o poder não se cobra nem se exige - ele flui natural e espontaneamente. Para que seja visto, procure observar as pequeninas coisas que dão certo, mesmo quando, aparentemente, tudo parece errado. Por exemplo, pode até ser fácil aprendermos a nos afastar de alguém que é ruim para nós, mas fazer isso sem desejar mal para essa pessoa é sentirmo-nos poderosos. Neste caso, se tivermos que expressar algum sentimento, devemos dar preferência ao desapontamento sem perdermos a calma, em lugar da raiva que é corrosiva e destruidora. Estaremos, assim, exercendo poder sobre nós mesmos na forma de autocontrole.
Ao longo do processo evolutivo da humanidade tem havido muito abuso do poder - poder físico, financeiro, político e emocional, isto é, os homens sempre mantiveram o domínio não só sobre as mulheres, mas também, sobre outros homens, seja pelo controle do dinheiro, seja pelo domínio das pessoas, procurando sempre diferenciar um poder masculino de um poder feminino. Mas, felizmente, no último século operou-se uma grande mudança social com o movimento feminista que vem lutando, e com razão, pela igualdade de direitos, deixando as mulheres de serem simples objetos do desejo e de subjugação dos homens. Esta mudança no perfil das mulheres vem exigindo destas maiores encargos e, certamente, maiores sacrifícios e responsabilidades, mediante ocupação de numerosos postos de trabalho, antes só acessíveis aos homens. É claro que essa atitude vai gerando numerosos conflitos nas relações afetivas e na criação dos filhos, já que a carreira profissional sacrifica o poder emocional. As mulheres precisam, portanto, equilibrar as ambições e não agravar os conflitos íntimos para não serem vítimas das descargas emocionais e conseguir o que querem. Aliás, ser vítima de abuso é tudo que ninguém quer ser. Por isso, precisamos respeitar os valores e engrandecer a alma sobre todas as coisas.
Mas também, é preciso que as mulheres não caiam na vala comum da chantagem emocional, em que os acessos de raiva, a sedução, a vingança ou a manipulação desses sentimentos se constitua em forma de poder. É bom lembrar sempre que o verdadeiro poder tem ação no interior da pessoa através do autocontrole e jamais se revela como exigência exterior. Por isso, não devemos deixar que nosso poder se extravase a ponto de invadir a intimidade de nosso semelhante e procurar disso tirar partido, já que tais exigências não preencherão o vazio trazido pela solidão que resulta quando um dos lados do relacionamento se afasta ou se esfria.
Afirmamos, sem medo de errar que precisamos sentir-nos bem com o que de fato nós somos, porque este procedimento positivo faz crescer intimamente o sentimento da autoestima, tão benéfico para que nossas relações de amizade e de relacionamento emocional se tornem positivas e prósperas. Expressemos, pois, nossos sentimentos aos nossos semelhantes com sinceridade. Podemos até ousar com os nossos sentimentos, mas não ofendermos. Redefinir, pois, cuidadosamente os nossos limites, eis a questão essencial. Isso reforçará nossa felicidade e nossa paz de espírito, que são valores mais importantes do que o domínio autoritário sobre os outros. Lembremo-nos que não é possível corrigir os outros e não é fácil corrigirmos a nós mesmos..