QUERER É PODER

01-12-2010 01:13


Existe muita força na expressão "querer é poder". A associação dessas palavras está fundamentada no forte vínculo que existe entre vontade, persistência, competência e responsabilidade, tudo isso sob o domínio da inteligência emocional. Esta, por sua vez, resulta da força do espírito humano quando este coloca sua vontade exclusivamente para o bem. Na verdade, a condição necessária para que o querer se transforme em efeito positivo é que o seu objeto seja lícito e justo. Assim, fica bem claro que querer só é poder quando a vontade soberana atua sob a força da razão. Mas, mesmo esta, precisa escudar-se nos sentimentos de persistência e competência. Isto, para não deixar dúvida às criaturas de que todo este processo decorre da responsabilidade inerente ao espírito vencedor das pessoas sérias, que encaram a vida com toda a clareza e no seu melhor sentido, o que vale dizer, sempre objetivando o cumprimento de seu dever.

Do exposto, fica claro que a expressão "querer é poder" tem seus limites apenas quando invade a esfera de ação de outra pessoa, isto é, tenta operar contra o direito de seu semelhante, causando-lhe ofensa séria ou dano material. Por isso, para alcançar a meta visada na expressão "querer é poder", não basta ter um querer forte, é preciso que ele seja justo, reto e lícito. Quando, para atingir esta meta, precisarmos compelir outra(s) pessoa(s), qualquer que seja a sua condição pessoal, estaremos desrespeitando o seu direito face a terceiras pessoas (direito erga omines). E nós sabemos muito bem que os nossos semelhantes precisam ser respeitados na sua integridade física e moral, seja em relação ao direito natural ou ao que decorre das leis sociais vigentes. Então, quando o objeto do seu querer é um ser humano, homem ou mulher, querer não é poder, necessariamente. Mas, poderá sê-lo, respeitadas as condições já mencionadas através da confiança com que a criatura se apresentar face ao seu semelhante, derivada diretamente do seu carisma.

Segue-se, pois, que para querer com valor é preciso saber querer coisas possíveis, atuando sempre com persistência e competência. Estes dois sentimentos têm o papel de convencer as pessoas mais resistentes e neles está o segredo para alcançarmos resultados positivos, sem os quais, nossa empreitada não será bem sucedida. Assim, aqueles que têm persistência ao colocar suas idéias em prática conseguem muito mais que as pessoas que desanimam ao primeiro embate. Convém, contudo, lembrar que não basta aparentar uma persistência obcecada, sem nenhuma validade prática e moral, caso em que a condição emocional resultante da inteligência emocional não se acha presente. Nós temos que estar prontos para o que, de fato, queremos.

É preciso, também, estarmos atentos para não sofrermos as conseqüências de "querer", mas não "poder". Isto pode parecer uma contradição ao título deste tema, mas acontece com freqüência, causando às criaturas sofrimentos como dores de cabeça, insônia, falta de ar, palpitações cardíacas, suores frios ou calafrios, um verdadeiro sufoco emocional. Estes são efeitos psicossomáticos decorrentes da diferença que existe entre um simples desejar e um querer vigoroso, sustentado pela vontade firme e pela possibilidade do objeto do querer. É o nosso senso de crítica e a avaliação criteriosa que devemos fazer de nossa força interior, bem como, da possibilidade de transformar desejo em querer que faz a diferença. Por exemplo, é preciso estar pronto para o amor, sem medo ou ciúme, esforçar-se para não cair nas malhas da paixão, que traz insegurança, e criar as condições necessárias para tudo dar certo. Livrando-nos do encantamento e da paixão, podemos amar de verdade.

Voltamos a destacar a influência do medo na vida das criaturas, tema que foi tratado em outra obra do autor. Embora pareça um paradoxo, incrível mesmo, muitas pessoas, quando tudo vai bem, começam a ficar com muito medo de que alguma coisa de ruim aconteça ou esteja para acontecer. Na verdade, estão procurando pêlo em casca de ovo e acabam achando, ruminando pretextos pequeninos para justificar sua falta de coragem em manter uma situação que alcançou, muitas vezes lutando contra grandes obstáculos. Daí, decorrerem os transtornos psicológicos, já referidos, que somatizam no organismo os seus efeitos nefastos, além de causar falta de sono e perda de apetite. Espiritualmente falando, as criaturas ficam obcecadas, não pensam em outra coisa e, portanto, não conseguem decidir coisa nenhuma que possa aproveitar-lhes. Dizemos, então, que não estão emocionalmente preparadas e, muitas se tornam até espiritualmente desequilibradas ou obsedadas. Dessa forma, convenhamos que "querer" não é "poder", pois não se trata de "querer", mas de perturbações absurdas provenientes de desejos obcecados.

Vale a pena destacar que o poder não se cobra nem se exige - ele flui natural e espontaneamente. Para que seja visto, procure observar as pequeninas coisas que dão certo, mesmo quando, aparentemente, tudo parece errado. Por exemplo, pode até ser fácil aprender a me afastar de alguém que é ruim para mim, mas fazer isso sem desejar mal para essa pessoa é sentir-se poderoso. Neste caso, se tiver que expressar algum sentimento dê preferência ao desapontamento sem perder a calma, em lugar da raiva que é corrosiva e destruidora. Estaremos, assim, exercendo poder sobre nós mesmos na forma de autocontrole.

Até mesmo se nos valermos das informações encontradas nos dicionários, podemos concluir que a palavra "poder" tem dois sentidos: 1) poder é ter controle, qualquer forma de controle, sobre os outros e, 2) poder é habilidade de fazer e agir. O primeiro sentido representa a forma autoritária e visa influenciar e controlar as pessoas; o segundo, refere-se à criatividade e à autorealização. Fica claro que, no primeiro caso, fazemos pressão sobre os outros e, no segundo caso, para nós e sobre nós mesmos. Assim, fica fácil concluirmos que a opção positiva é a segunda e tudo devemos fazer para nos alinhar com essa corrente. Esta reflexão nos leva a identificar que sempre estarão à nossa disposição as duas formas de poder: na primeira forma o poder é instrumento de controle e domínio, enquanto que na segunda, ele estará sempre associado à idéia do bem e do amor. Devemos sempre preferir o AMOR, que é o verdadeiro PODER, como instrumento de união. Vemos, assim, que o grande dilema é promovermos uma mudança de atitudes, desenvolvendo em nós mesmos o poder da vontade e do autocontrole, reagindo intimamente para promover esta mudança benfazeja e fortalecedora.

Ao longo do processo evolutivo da humanidade tem havido muito abuso do poder - poder físico, financeiro, político e emocional, isto é, os homens sempre mantiveram o domínio sobre as mulheres, mas também, sobre outros homens, seja pelo controle do dinheiro, seja pelo domínio das pessoas, procurando sempre diferenciar um poder masculino de um poder feminino. Mas, felizmente, no último século operou-se uma grande mudança social com o movimento feminista que vem lutando, e com razão, pela igualdade de direitos, deixando as mulheres de serem simples objetos do desejo e de subjugação dos homens. Esta mudança no perfil das mulheres vem exigindo destas maiores encargos e, certamente, maiores sacrifícios e responsabilidades, mediante ocupação de numerosos postos de trabalho, antes só acessíveis aos homens. É claro que essa atitude vai gerando numerosos conflitos nas relações afetivas, já que a carreira profissional sacrifica o poder emocional. As mulheres precisam, portanto, equilibrar as ambições e não agravar os conflitos íntimos para não serem vítimas das descargas emocionais e conseguir o que querem. Aliás, ser vítima de abuso é tudo que ninguém quer ser. Por isso, é preciso respeitar os valores e engrandecer a alma sobre todas as coisas.

Mas também, é preciso que as mulheres não caiam na vala comum da chantagem emocional, em que os acessos de raiva, a sedução, a vingança ou a manipulação desses sentimentos se constitua em forma de poder. É bom lembrar sempre que o verdadeiro poder tem ação no interior da pessoa através do autocontrole e jamais se revela como exigência exterior. Por isso, não devemos deixar que nosso poder se extravase a ponto de invadir a intimidade de nosso semelhante e procurar disso tirar partido, já que tais exigências não preencherão o vazio trazido pela solidão que resulta quando um dos lados do relacionamento se afasta ou se esfria.

Para não entrarmos ou nos estendermos nas diversas formas de autocontrole e controle, que serão objeto de outro tema, afirmamos que é preciso sentir-se bem com o que de fato você é, porque este procedimento positivo faz crescer intimamente o sentimento da auto-estima, tão benéfico para que nossas relações de amizade e de relacionamento emocional se tornem positivos e prósperos. Expresse, pois, os seus sentimentos aos seus semelhantes com sinceridade. Você pode até ousar com os sentimentos, mas não ofender. Redefinir, pois, cuidadosamente os seus limites, eis a questão essencial. Isso reforçará sua felicidade e sua paz de espírito, que são valores mais importantes do que o domínio autoritário sobre os outros. E lembre-se, não é possível corrigir os outros e não é fácil corrigir a si mesmo.