PREOCUPAÇÃO
A preocupação é um estado de espírito que pode resultar de um medo inconsciente ou, até mesmo, de obstáculos e problemas que tenhamos que resolver em breve e que nos atormenta de uma maneira inquietante, a ponto de ocupar, antecipadamente, boa parte de nossas idéias. Nesse contexto, desempenha papel relevante o medo de fracassar. As pessoas que se preocupam demasiadamente são criaturas que procuram fazer o que é certo e temem falhar em seus objetivos, em geral, por sentirem-se inseguras sobre si mesmas, por terem que enfrentar problemas além de seus limites ou mesmo por ignorância espiritual sobre o verdadeiro valor das suas ações na vida.
Desvendarmos esses medos e temores ocultos, muitas vezes introduzidos nas mentes das crianças por descuido em sua educação ou por pessoas inescrupulosas, é o primeiro passo para lidarmos melhor com suas preocupações cotidianas. A grande maioria das preocupações é de natureza negativa e, portanto, são desnecessárias. Veremos no tratamento desse tema que saber pensar e raciocinar com acerto e lógica, discernindo entre alternativas e optando por uma delas após uma boa análise da situação, no momento próprio, é a única forma de descarregar nossas tensões e inquietações.
É evidente que não há mal nenhum quando a criatura procura resolver seus problemas de modo racional e concatenado, através de premissas bem fundamentadas e argumentos válidos, de onde possa surgir uma boa solução. A concatenação das idéias, isto é, a ordem e a validade das mesmas e o tratamento racional feito um pouco antes, no tempo certo, concorrem para o bom êxito das soluções de nossos problemas e servem para afugentar as preocupações. Evitaremos, assim, a girar num interminável círculo de idéias, muitas vezes não conexas e sem fundamento com o assunto que temos de tratar e resolver.
Nós não estamos dizendo que a preocupação é um mal necessário, mas quando levada a extremos de exageros pode tornar-se o núcleo de problemas mais sérios que levam a criatura à ansiedade, tornando-se angustiada e, até mesmo, obsessiva nas suas atitudes cotidianas. Empregando um esforço de reflexão construtiva sobre nós mesmos poderemos atingir as verdadeiras raízes das preocupações e erradicá-las em nosso próprio proveito.
A preocupação é a antecipação da ocorrência de um fato, em geral desagradável, preparando-nos para lidar com ele. Assim, seu esperado papel é o de projetar soluções inteligentes, positivas e viáveis, de modo a nos proteger dos perigos da vida, prevendo-os antes que aconteçam. Vista sob esta ótica, estaríamos tentando minimizar os eventuais problemas e evitar que viessem se agravar, abalando a tão desejada segurança que queremos para nossas vidas e evitando que temores e apreensões infundadas nos tomem de assalto.
O nosso problema real são as preocupações crônicas. Essas se repetem eternamente e jamais nos levam a uma solução definitiva: elas parecem surgir do nada, são aparentemente incontroláveis, geram uma turbulência constante de ansiedade, são imunes à razão e prendem aqueles que se preocupam numa visão turva e inflexível do tema, levando a criatura, muitas vezes, ao exaspero e ao desespero. Essa persistência, quando intensificada ao seu limite extremo, causa ansiedade, fobias, compulsões, obsessões e até ataques de pânico. Quando a preocupação chega a este ponto, concentrada no temor de alguma coisa definível ou indefinível, a criatura pode estar precisando de ajuda e tratamento apropriados.
Alguns casos podem tornar-se tão sérios, que há criaturas que chegam a preocupar-se com a própria preocupação, em monólogos que vão saltando de preocupação em preocupação, em interminável sucessão de idéias caóticas, chegando muitas vezes catastrofizar problemas sem importância nenhuma ou que têm pouquíssima probabilidade de virem a acontecer. Por exemplo, quando eu digo “eu nunca vou ser feliz”, frase bastante comum, a criatura está auto-induzindo-se negativamente e, assim, predispondo-se a uma preocupação constante que provem do medo de ser feliz, criando, dessa maneira, infortúnios atrás de infortúnios no seu viver.
Há muitos estudos sérios sobre a preocupação, que é uma emoção bastante comum, sendo uns de natureza material e outros de ordem psicológica. Os primeiros, com os modernos recursos de exploração científica do cérebro, investigam os processos neurais que ocorrem dentro do cérebro ou mais propriamente no sistema límbico, que, por sua vez, contém o tálamo e a amigdala cerebral, partes em que ocorrem os mecanismos de interpretação das emoções. É nessas partes do cérebro que certos neurotransmissores são liberados ou, provindo de outras glândulas endócrinas, nelas atuam, conforme a natureza de certos estímulos e pensamentos, a ponto de a ciência oficial sugerir que a inteligência emocional aí se localiza.., o que nos parece inverossímil.
Já os estudos da psicologia procuram direcionar ou induzir, através de técnicas especiais, o aparecimento de um estado cognitivo a que deram o nome de autoconsciência, no sentido de “apoderarem” dos episódios preocupantes tão logo eles se iniciem. Dessa forma, pretendem identificar as situações que provocam as preocupações, e assim, procurar evitar que venham transformar-se em angustiante espiral da ansiedade. Recomendam, também, técnicas de relaxamento, que podem ser aplicadas no momento em que os seres percebem o início da preocupação e praticam-nas diariamente, nos momentos que mais precisarem de tais exercícios. Entende-se por autoconsciência um estado de espírito em que as pessoas apresentam boa saúde mental, perspectiva positiva e bom humor.
Pelo exposto, vemos que tanto os estudos dos mecanismos cerebrais como o aconselhamento psicológico são úteis, mas não curam a preocupação e a ansiedade, este último não passando de mero paliativo ou estratégia para estabelecer uma cadeia de atividades mentais incompatível com a preocupação. Nem mesmo a medicação adotada por psiquiatras em casos extremos de distúrbios obsessivo-compulsivos de ansiedade ou de pânico cura essas perturbações do pensamento, apenas interrompem o ciclo, voltando este após a suspensão da medicação ou das técnicas psicológicas acima referidas.
O segredo para lidarmos efetivamente com as preocupações está em conhecermo-nos como Força e Matéria, conhecimento que só o espiritualismo científico pode proporcionar às criaturas. Para isso, temos que saber usar o raciocínio e a força de vontade de forma determinante, para tranqüilamente podermos examinar com lucidez e racionalidade cada situação que se nos apresente, no tempo certo, o que vale dizer, na hora que tivermos que aplicar a escolha que fizermos entre duas ou mais opções. É óbvio que isso exige firmeza e determinação e, sobretudo, confiança em nós mesmos. Assim procedendo, estaremos reservando e conservando nossas forças e energias para serem concentradas no alvo certo e no momento exato, com a certeza de sermos bem sucedidos.
Conforme vimos, o medo sob as mais diversas formas e diferentes disfarces está por detrás das preocupações; como por exemplo, medo de não conseguir um emprego, medo de ficar desempregado, medo de confiar nas pessoas e tantos outros, que foram tratados com mais profundidade sob o tema “O Medo”, no nosso livroReflexões sobre os Sentimentos.
Vamos exemplificar aqui com o medo de confiar, que grandes males pode causar à convivência humana. Existem pessoas desconfiadas que procuram estabelecer padrões de exigência tão altos para os outros que jamais poderiam ser atingidos por ele mesmo. Outras vezes, não acreditam que outras pessoas possam ser tão habilidosas em uma determinada atividade que elas próprias não sabem realizar. Vêm em qualquer pequeno defeito motivo para reforçar sua desconfiança e, assim, colecionam exemplos negativos para reforçar suas idéias. Tais criaturas precisam mudar suas atitudes e sentirem-se gratas por existirem pessoas que sabem fazer o que você não sabe ou não gostaria de fazer. É preciso dizer para você mesmo: “Preciso e quero confiar. Eu reconheço que essa pessoa não é perfeita. Ela pode me desapontar, assim como, às vezes, me decepciono comigo mesmo”. Esta atitude lhe dará motivação para confiar e manter mais próximas pessoas amigas, devendo lembrar-se que nunca você encontrará um amigo, companheiro ou profissional perfeito, já que a imperfeição é própria do ser humano. Aprendendo a adotar atitudes compreensivas como estas, estará afastando grande parte das preocupações que encontraria no seu viver. À propósito vide o tema que escrevemos sobre “A Confiança”, no nosso livro Reflexões sobre os Sentimentos
Não é nosso propósito tratar aqui dos diferentes métodos utilizados para a criatura não se preocupar, a maioria deles visando afastar os medos conscientes ou inconscientes que estão por detrás das preocupações, sendo óbvio que saber lidar com as preocupações já é meio caminho andado. Tais métodos, em muitos casos, contam com a ajuda de exercícios respiratórios e técnicas de meditação.
Para concluir, afirmamos que a preocupação indiscriminada sobre todo e qualquer tipo de atividade mental é a essência do efeito prejudicial da ansiedade, embora pareça ser uma resposta de certa forma útil e supercuidadosa para uma ameaça previsível. Através da preocupação há como que uma intromissão de pensamentos intrusos na capacidade que a criatura tem de concentrar-se, tentando distraí-la ou perturbar seu raciocínio.. Dessa forma, a ansiedade solapa o intelecto e as pessoas propensas à preocupação têm fraco desempenho na escola e nas suas atividades cotidianas. Evitar os pensamentos negativos e reagir imediatamente com pensamentos positivos é o primeiro passo para afastar as preocupações, desfazendo-se de pensamentos como “Não vou conseguir isso ou aquilo” ou “Não sou bom para resolver este tipo de problema”. A solução terá que ter sempre mais racionalidade e menos emoção, usando a força de vontade como elemento controlador e o raciocínio como força de argumentação.
