PAIXÃO DESENFREADA
A paixão é um sentimento bastante complexo que se fundamenta na emoção e que se manifesta ora como um amor ardente, ora como um vício dominador e dominante. É o anseio pela busca da união perfeita entre o possível e o ideal, tendo este último como limite a atingir. Nesta ampla faixa oscila a paixão, ora como um atroz tormento íntimo da alma, ora como um incomensurável enlevo de felicidade.
A verdadeira paixão é repleta de sentimentos generosos e leva a criatura a amar de verdade, enquanto que a falsa paixão é aquela encontrada nas criaturas que têm medo de passar por muitos sofrimentos no caso de verem quebrados os laços sentimentais que a fundamentam. A primeira exige coragem e desprendimento, enquanto que a segunda está eivada de sentimentos egoísticos e até mesmo do desejo de posse carnal e sexual. Daí, na falsa paixão, existir o grande perigo das conseqüências nefastas, podendo gerar conflitos e tormentos tão grandes e incontroláveis que muito se assemelham à obsessão. Esse é o perigo que existe em se confundir a paixão com a sexualidade dominante, o que é um erro bastante comum e freqüente.
O maior perigo encontra-se na paixão unilateral, aquela que tem a criatura que doa o seu amor com generosidade a uma outra criatura, mas não recebe desta, na mesma intensidade, a contrapartida de seu gesto, não raras vezes recebendo em troca o desprezo, que nele se transformará em verdadeiro tormento, sujeitando-o ao avassalamento espiritual e levando-o a cometer os piores desatinos. Esta é a dificuldade de receber respostas afetivas do mesmo grau e intensidade que as emitidas pelo doador.
Somos daqueles que colocam a paixão como o ideal do mais generoso e sublime amor. Realisticamente, porém, devemos nos conscientizar que estamos diante de um ideal raro de se obter devido à grande heterogeneidade de graus de espiritualidade dos espíritos encarnados. Não raro, encontraremos diferenças de temperamento entre criaturas generosas e egoístas, diferenças de gostos, preferências e interesses. Acomodar todos esses conflitos é tarefa quase impossível. Por isso, contam-se aos milhões os casamentos frustrados e fracassados
Portanto, aqueles que vão constituir família devem levar em conta que a felicidade no mundo Terra é apenas relativa, já que toda trajetória evolutiva encontra sempre muitos percalços. É preciso, pois, dotar-se de grande flexibilidade e exercer uma compreensão, paciência e tolerância muito grande, preparar-se para esta tão árdua missão. Em síntese, é preciso conhecer a difícil arte de saber viver. As afinidades precisam, portanto, predominar sobre as diferenças para afastar os fatores e as influências negativas que levam às eternas brigas entre os casais, com grande influência na educação dos filhos. E quando isso ocorre, vemos o amor se transformar em ódio entre os casais, levando às separações inevitáveis.
Além dos requisitos básicos da simpatia e da empatia, há que aprender e saber muitas outras questões. É preciso fazer um projeto de vida a dois, verificar outros aspectos práticos e funcionais capazes de transformar paixão em amor duradouro, mesmo quando o casal e a família dele decorrentes tenham que passar por grandes agruras e sofrimentos. No casamento, nem tudo são rosas. Há muitos espinhos sempre prontos a ferir as suscetibilidades, todas embasadas no amor-próprio que toda criatura tem em maior ou menor grau. Algumas vezes os espinhos são tão numerosos, que não é fácil conviver com eles. Por isso, é preciso haver muita compaixão, muito respeito, muita paciência, pois nem todos estão preparados para ouvir críticas nem aceitar a ordem e a disciplina que humaniza e harmoniza as pessoas.
Apesar de todos esses requisitos básicos, o amor-paixão está sujeito a muitas contradições, principalmente quando sobressaem as diferenças e os desentendimentos, causando o esfriamento nos relacionamentos, que vão se acentuando de sobressalto em sobressalto até desaparecer por completo. Há que se levar também em conta a influência dos sentimentos de orgulho e inveja, esta exercendo papel preponderante no confronto dos valores advindos do sucesso de um dos parceiros durante a sua vida em suas atividades e funções, principalmente quando houver entre eles uma grande diferença de cultura, que acentua o complexo de inferioridade no outro.
É preciso atentar para as condições que permitem transformar a paixão em verdadeiro amor, ou pelo menos, em amor-paixão, a fim de minimizar a cegueira que uma paixão desenfreada pode causar, levando as criaturas ao desajuste e ao desgaste emocional. Para isso, convidamos as pessoas a refletirem sobre as premissas e condições básicas, todas já comentadas neste tema:
· Condições físicas de atração (magro, gordo, raça, etc.).
· Condições sentimentais, como gostos e preferências
· Condições intrínsecas de espiritualidade
· Simpatia e empatia
· Espontaneidade (nunca forçar nada)
· Introversão versus extroversão
E, como saber que estas condições básicas estarão presentes para manter a auto-sustentação dos futuros laços? É muito difícil saber de antemão se uma união vai dar certo ou não Porém, se houver, entre ambos os parceiros, uma forte tendência ao bom senso, à tolerância e à compreensão estarão presentes as condições básicas e a harmonia reinará na família.
É necessário sonhar, mas não fazer dos sonhos os nossos únicos senhores, como disse Rudyard Kipling em seu famoso poema “SE”, mas sim um instrumento para o efetivo desenvolvimento e a evolução das criaturas. Buscando sempre conciliar os objetivos na carreira, na profissão, nos filhos e na obtenção de um patrimônio comum para garantia de sobrevivência independente quando chegarem os anos da velhice, o casal pode e deve sonhar juntos, desde que se disponha sempre à transformação e adaptação para uma vida a dois. Muitos pensam que este sonho é possível, pois persistindo acabam conseguindo. O segredo está, portanto, na persistência.