OFENSA E MÁGOA
A ofensa resulta do mau uso que fazemos de nossos pensamentos em relação aos nossos semelhantes quando aqueles, na forma de palavra, são verbalizados sem o devido cuidado e respeito pelo próximo. A ofensa resulta, portanto, da ação verbal sobre o nosso semelhante que passou a ouvir certas coisas faladas com desrespeito à sua pessoa ou em relação às suas atitudes e modos de ser. Quando este desafio ao.indivíduo se torna muito profundo, até mesmo causticante, e ele não quer retribuir o bate-boca em discussão acalorada ou até mesmo elaborada de forma racional, o ofendido se cala. Muitas vezes, se ele for uma pessoa educada, está só aparentemente aceitando a ofensa e passa a remoê-la no seu íntimo. Esta reação passiva é muito nociva porque retorna, com freqüência, à baila na forma de mágoa, um sentimento negativo arrasador, capaz de causar grandes estragos a ambas as partes da relação. Isto nos mostra que precisamos ter atitudes cuidadosas com relação aos nossos pensamentos e sobre sua expressão verbal ou escrita, para não provocarmos os sentimentos negativos mais profundos em nossos semelhantes.
Difícil, mas não impossível, é procurar não desafiar as pessoas em seus sentimentos. Devemos sim, desafiar os nossos semelhantes a serem sinceros, autênticos e espontâneos, sem hipocrisia, quando tivermos que apreciar certas facetas, modos de ser, comportamentos e atitudes de nossos semelhantes. Devemos ser cuidadosos, atenciosos para não sermos invasivos e isto é muito importante, pois o livre-arbítrio de cada um precisa ser respeitado, sempre. Portanto, todo esforço deve ser feito para sabermos a hora de interromper um diálogo que se descambou para o bate-boca acalorado que pode levar a sérias ofensas e, em contrapartida, levar um amigo ou um parente a ter mágoa de nós.
Todos nós sabemos que não é fácil avaliar a conduta de nossos semelhantes, suas razões íntimas, não reveladas. Isto equivale a dizer que não devemos ser invasivos, ao contrário, devemos ter em mira que sermos honestos e sinceros não nos dá o direito de dizermos tudo o que pensamos. Precisamos saber "filtrar" os nossos pensamentos e sentimentos, pois a franqueza tem a sua hora de dizer. Irromper em franqueza em certos momentos pode ser prejudicial. Então, devemos refrear nossos pensamentos e sentimentos? Claro que não, mas devemos filtrá-los e ter os cuidados apontados para não corrermos o risco de sermos indelicados e ofensivos, estragando uma relação sem necessidade, quase sempre por bem pouco mesmo.
Estaremos freqüentemente diante do dilema: teremos sempre o direito de impor o nosso ponto de vista? É óbvio que não. Então, como avaliar o que deve ser dito e o que não deve? Devemos analisar esta pergunta pelo resultado ou efeito esperado: se o efeito for invasivo e destrutivo, teremos uma ação nociva, mesmo quando apoiada em boas intenções. É o que pode acontecer quando fazemos uma observação cujo resultado não vai ajudar a pessoa, como na observação "você está abatido, muito pálido, de olheiras, etc.". Por aí se vê que nem sempre devemos falar tudo o que pensamos, ainda que o objetivo seja facilitar o entendimento.
Não devemos perder de vista que o ser humano é, por natureza, vaidoso e reage negativamente quando a verdade não lhe agrada, levando-o a desenvolver uma atitude negativa. Por isso mesmo, devemos evitar expressões como "você é um idiota ou você é um tapado", etc., pois sabemos que falar certas coisas é desrespeito e pode causar o sentimento de raiva no outro.
Devemos, portanto, estar sempre vigilantes no uso de certas palavras e expressões, da mesma forma que devemos evitar o auto-elogio e autopromoção, indicadores de uma vaidade exarcebada. Assim também, devemos ter em mente que o descaso pelo nosso semelhante é fruto do individualismo e do egoísmo e se estes sentimentos negativos não são evitados, a criatura com certeza vai se dar mal em muitas situações.
Há pessoas que encontram defeitos em tudo e possuem um impulso incontrolável de rebaixar alguém. São criaturas que reclamam de tudo e usam todo e qualquer pretexto para ofender e procurar rebaixar o seu semelhante. Procuram humilhar as criaturas em casa, em público ou até mesmo reservadamente. Por isso, devemos nos colocar "em guarda" para não aceitar o apelo desses impulsos, provocados principalmente por aqueles que, de uma certa forma, alimentam ressentimentos, raiva, inveja ou, até mesmo, um complexo de inferioridade crônico resultante de uma maior ou menor obsessão. Os psicólogos os consideram emocionalmente vulneráveis, estão sempre insatisfeitos e são invejosos, também. Tudo isso são reflexos de sua baixa auto-estima, que recalcada, pode levar a criatura a agir para o mal e pelo mal por vingança ou por desprezo. Todo cuidado é pouco com estas criaturas.