Moral e moralidade à luz do espiritualismo
Fonte - https://www.arazao.net/moral-e-moralidade.html
Caruso Samel
Procuramos, no artigo anterior, intitulado Ética, moral e moralidade, situar a moral em face da ética e vice-versa, exprimindo o nosso ponto de vista de acordo com o enfoque espiritual de que a moral, até mesmo por ser aplicada ao indivíduo pelo próprio indivíduo, precede os preceitos éticos, estes estabelecidos com o objetivo de proteger o bem comum de uma maneira coletiva. E, ainda, deixamos claro que nosso entendimento neste aspecto contraria o conhecimento vigente na Axiologia (parte da Filosofia que estuda os valores). Vamos, agora, nos estender um pouco mais sobre a moral espiritual e a moralidade nas atividades do dia-a-dia da criatura, cada uma delas tomada de per si.
A moral espiritual acha-se representada no caráter do espírito, representação esta que a criatura recebe quando o espírito encarna para comandar sua evolução em corpo físico. É certo que ao encarnar a moral plena e absoluta, tida como ideal nos mundos astrais superiores, torna-se relativa e assume o seu papel de acordo com o grau de espiritualidade alcançado pelo espírito da pessoa. Isso porque sabemos que o grau de liberdade de um espírito encarnado depende de muitos fatores, embora sejamos geralmente livres em todas as situações morais típicas em que o uso do nosso livre-arbítrio faz a balança ora pender para o Mal, ora para o Bem.
RESPONSABILIDADE. O que importa, porém, para que nossa prática moral, isto é, para que a moralidade nos sirva de ponto de apoio para nossa evolução verdadeira é harmonizá-la sempre com os ditames da nossa consciência. Esta é a única forma de não nos corrompermos face à verdadeira moralidade, porque estaremos praticando a liberdade com responsabilidade pelos nossos atos.
Entendamos que não se deixar corromper é não pactuar com a mentira sob qualquer pretexto, isto é, deixarmos de lado a hipocrisia, tão camuflada direta ou indiretamente por certos preceitos até mesmo considerados éticos em nossa sociedade atual.
Por exemplo, citando o preceito de ouro de cristianismo, “não fazer a outrem o que não queremos que nos façam” nos leva a amar ao próximo como a nós mesmos. Isto é reconhecer que na essência todos somos iguais uns aos outros. Nascemos iguais com iguais deveres e iguais direitos, estes sob o comando da ética, já que os direitos são compulsórios sob o comando da lei, variável de povo a povo, de cultura a cultura, de nação a nação, mesmo sabendo que eles foram estabelecidos com base na Declaração Universal dos Direitos Humanos, uma tentativa de unificar os direitos do homem em base planetária. Os direitos se diferenciam porque têm caráter coletivo e cultural e não poderiam ser uno para povos com culturas diferentes.
Encarnado o espírito, cabe aos pais dar às crianças, seus filhos, toda a atenção possível para formar-lhes o caráter, este complexo de atributos que, praticados conscientemente, deixa a pessoa sempre bem consigo mesma. É o caráter que leva a pessoa a agir sempre altruisticamente com disciplina, decência, honestidade, dignidade, honradez, respeito a si mesmo, aos pais e demais familiares e semelhantes. É, ainda, o bom caráter que leva a pessoa a se livrar do orgulho, da inveja, da arrogância e dos preconceitos, A isso chamamos de educação moral, que nasce no berço, cresce na família e finalmente engrandece toda a conduta humana. Já nas escolas, recebe a criança, além da instrução formal, ensinamentos éticos que vão somar-se àqueles da própria moral desenvolvida no lar para ter condições de conviver em grupo e, portanto, na sociedade, Aqui ele aprende a respeitar o semelhante como um ser igual a ele próprio. Mais tarde, já na sociedade, no conflito das paixões mundanas, ele aprende a ciência dos costumes e do bom senso, para provocar e evitar o mínimo de conflitos na sua vida ativa, tornando-se um elemento pró-ativo. Ele aprende a gerar o seu espaço sem invadir o espaço de terceiros, sem ofender o seu semelhante. É disso que precisamos para termos uma sociedade saudável, moral e eticamente falando.
Sem entrar em devaneios sobre tantos e tantos fatores que afetam a moralidade e a ética, qualquer que seja o caso, tanto a moralidade quanto a ética têm no homem o seu foco central, quer este aja individualmente, quer coletivamente. Isso equivale a dizer que no homem existem impulsos egoísticos e impulsos sociais, impulsos para a preservação do indivíduo e impulsos para preservação da espécie (do grupo ou da raça). Na vida em sociedade, ora predomina um, ora predomina o outro, conforme o meio em que atua o indivíduo.
Cheguemos aos extremos. Há aqui um conflito muito sério: o grande objetivo da moralidade é a paz; já a grande prova da sobrevivência do mais apto, segundo Darwin, é a guerra. Quando dois países têm os seus interesses ameaçados, se armam e, se não conseguem resolver essa ameaça pela força do direito (normas éticas), procuram fazê-lo pela força de seus arsenais. Um cidadão qualquer de um dos países, que respeita a moral cristã recebida de seus pais, pode sentir-se psicologicamente perturbado e não atender ao chamamento da pátria para o alistamento e o combate. Para sua moral cristã, não existem inimigos, todos são iguais em essência e ele, que é espiritualmente evoluído, procurará preservar essa moralidade tão bela e verdadeira, em harmonia com a sua consciência. Isso seria o ideal.
CONSCIÊNCIA. Quando teremos essa força moral para resistir às guerras e buscar a paz? Tudo depende do esclarecimento sobre as coisas sérias da vida. Até quando seremos títeres ou fantoches subjugados por governos mal-formados a nos comandar? Até quando seremos objetos passivos dos governos autoritários, faltosos de espiritualidade para reconhecer, compreender e pôr em prática a necessidade de uma fraternidade universal como princípio moral ou ético de todos os povos?
Afinal, sem dúvida alguma, não importa se a moral está subordinada à ética ou vice-versa. O que realmente importa é que ambos devem operar conjuntamente, de mãos dadas, a todo tempo, na consciência dos homens, pois é do conjunto dos valores morais e éticos que mais o homem precisa para honrar o seu nome científico de homo sapiens.
Além disso, o homem precisa integrar-se à Natureza e não tão somente dela se servir. Temos que trabalhar isso constantemente, diuturnamente, para que o homem não agrida a Natureza, porque, sendo ele o ente mais evoluído do planeta, que afinal é o lar de todos nós, tem que preservá-lo dentro de uma realidade mais abrangente, nos dias de hoje, a demandar os nossos melhores esforços em prol da evolução da humanidade.
(O autor é militante da Filial Butantã, SP)