Intelectualidade, espiritualidade e mediunidade

05-08-2012 12:22

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Caruso Samel

Em 2 de julho de 2006 tivemos a oportunidade de tecer algumas considerações sobre a magna questão da eventual inter-relação dessas faculdades do espírito, lembrando que estávamos focando a vivência do espírito enquanto ser encarnado na Terra. Na presente oportunidade, estendemos um pouco mais nossa visão sobre esses conceitos.

1. A intelectualidade

A intelectualidade está embasada na lógica e serve ao desenvolvimento do raciocínio, do discernimento e da criatividade ou poder criador, pois devemos sempre lembrar que o homem é ao mesmo tempo criatura e criador. Com esses atributos, o espírito, durante suas encarnações, conhece cada vez mais a si mesmo como Força atuante sobre a Matéria, e vibra cada vez mais intensamente durante sua evolução como Força Inteligente, como partícula da Inteligência Universal. Podemos dizer, sem questionar os procedimentos metafísicos envolvidos neste processo, que seu saber e, portanto, o seu brilho intensifica-se à medida que ele sobe os "degraus" da escala evolutiva através de numerosos ciclos encarnatórios. Enfim, a intelectualidade leva o espírito a adquirir mais conhecimentos e mais verdades sobre os fenômenos e os fatos da vida tendo como meta a sabedoria universal, vista de forma absoluta, após terminado o ciclo de encarnações do espírito.

2. A espiritualidade

Espiritualidade é sensibilidade para perceber fenômenos não detectados pelos sentidos físicos comuns. Ela está firmada nos sentimentos e serve ao desenvolvimento do caráter, dos bons sentimentos e das diversas modalidades de afeição (amor, amizade, lealdade etc.). É o nosso crescimento em espiritualidade que nos leva a deixar para trás os instintos próprios dos animais, pelos quais já passamos durante nossa longa cadeia evolutiva e, também, a desativar e abandonar os maus sentimentos (ódio, raiva, inveja, orgulho etc.). 

É ela que nos permite avançar em direção a uma vida psiquicamente mais equilibrada e construir uma sociedade mais pacífica aqui na Terra, alcançando maior valor moral, compreensão, compaixão e fraternidade. Abandonando os maus sentimentos e realçando os bons, nós nos depuramos espiritualmente, tornando-nos seres mais leves, bem como, mais aceitáveis no relacionamento com os nossos semelhantes. Passamos a enxergar todas as pessoas como iguais em essência. Isso é crescer em espiritualidade.

3. A mediunidade

Sabemos que todos nós (encarnados) somos dotados de mediunidade, pelo menos a intuitiva, em maior ou menor grau. Será que podemos dizer que a mediunidade é função direta do grau de espiritualidade? Essa é a questão. Para dirimir essa dúvida, devemos tentar discernir sobre sua função tanto na Terra como, eventualmente, no mundo próprio do espírito (mundo de estágio). Aqui na Terra, a mediunidade tem para nós um papel revelador da existência do mundo espiritual e isso é válido para qualquer tipo de mediunidade.

Nos mundos de origem ou de estágio, a mediunidade parece ser uma função desnecessária, pois neles todos os espíritos têm plena consciência de que são espíritos, já que não existe o véu da matéria grosseira para encobrir esse conhecimento. Portanto, a mediunidade não teria função alguma para os espíritos em seus mundos de estágio. Em seu lugar, situa-se a telepatia, de que todos os espíritos desencarnados são dotados, e através dela se comunicam.

Assim, pela telepatia um espírito desencarnado induz (transmite) a intuição, que é uma forma de mediunidade, em nós, encarnados, com o objetivo de tomarmos conhecimento direto da existência do mundo espiritual. Em resumo, temos como certo que a telepatia é uma forma natural de comunicação entre os espíritos desencarnados e serve tanto para emitir como para receber informações entre eles; de outro lado, a mediunidade é uma forma de recebermos (apenas recebermos) informações do mundo espiritual. Quando entre nós, espíritos encarnados, estivermos intuindo ou sendo intuídos, estaríamos transmitindo ou recebendo informações. Na verdade, seria o mesmo que dizer que estamos usando a telepatia de forma ainda incipiente, já que ela é pouco desenvolvida entre nós, humanos, que nos comunicamos essencialmente pela palavra falada e escrita.

Com um pequeno esforço mental, podemos agora verificar que a mediunidade é apenas um recurso de captação de uma realidade mais abrangente, e que tem utilidade apenas para nós encarnados, permitindo uma percepção mais direta do mundo espiritual, já que os outros sentidos físicos pouco ou nada podem fazer para adquirir esse conhecimento. Por isso, dizemos que os médiuns servem de "instrumentos de comunicação" dos espíritos conosco, numa via única, isto é, de "lá para cá", do mundo espiritual para nós. E, se tomarmos como regra geral que qualquer pessoa (existem espíritos encarnados provenientes de vários graus de espiritualidade diferentes) pode desenvolver a mediunidade (pelo menos a intuitiva), fácil é concluir que a mediunidade é independente do grau de espiritualidade do médium. A mediunidade pode servir ao próprio médium para, num primeiro momento, despertar a sua atenção para a vida espiritual. Contudo, deve servir, primordialmente, para ajudar a difundir o conhecimento da vida fora da matéria para toda a humanidade, e nunca para fins medíocres e escusos como soi acontecer em tantas e tantas situações deploráveis. 

4. Conclusão 

Concluindo, pensamos que podemos afirmar que intelectualidade e espiritualidade não guardam qualquer relação direta entre si, isto é, podem ser trabalhadas independentemente uma da outra em diferentes encarnações, mas com o objetivo comum de ambas se desenvolverem ao longo das encarnações, ora uma com mais intensidade que a outra, podendo inverter-se essa situação em algumas encarnações. A meta final é o desenvolvimento pleno do espírito através da evolução.

E, com relação à mediunidade, nosso exercício mental acima referido nos leva à conclusão de que a mediunidade é independente do grau de espiritualidade, não guardando com esse qualquer relação direta, sendo apenas um recurso de comunicação entre os espíritos desencarnados e nós, encarnados, servindo para tomarmos melhor e mais amplo conhecimento da vida espiritual. Parece-nos, porém, bastante intuitivo que a mediunidade é melhor desempenhada por médiuns que tenham sua intelectualidade mais desenvolvida, principalmente quando se trata de receber mensagens orientadoras de espíritos do Astral Superior. 

(O autor, escritor, é militante da Filial Butantã, SP)