HUMILDADE
Escrito em homenagem ao meu amigo e irmão espiritual Sydney
Mossim, que em tão curto espaço de convívio já demonstrou a
que veio e porque veio, através de seus inequívocos exemplos de
humildade”.
O sentimento de humildade é um dos mais nobres que a criatura pode exercitar em muitos momentos de sua vida. Ele provém de dentro de nós, o que vale dizer, ele reflete a espiritualidade que aflora em nossas ações sem que precisemos nos sentir insignificantes. Ele enaltece as pessoas e deixa as criaturas encantadas consigo mesmas. A noção de humildade é inata nas criaturas; não deve ser confundida com humilhação que tem o sentido de nos fazer sentir pequenos e inferiorizados aos nossos próprios olhos. Ao contrário, a humildade nos faz expandir, apreciar e sentir encantamento e o verdadeiro valor que uma vida bem vivenciada e entendida nos proporciona a cada dia.
A humildade leva-nos a ficar silenciosos diante da grandeza das pequenas coisas que ainda não sabemos e nos ajuda a entender o belo e a descobrir as verdades e maravilhas que existem por toda parte, ao nosso redor. Enfim, ela nos ensina a maravilharmo-nos com a beleza e a harmonia Universal que existe em tudo que nos cerca, desde a vibração do mais elementar átomo até às portentosas potências de energia existentes nas mais brilhantes estrelas do Universo.
A humildade não é autodepreciação ou humilhação; ao contrário, é um dom do espírito, forte, livre e confiante em si mesmo. Todas as grandes figuras da História, em qualquer campo do conhecimento, foram criaturas de forte vontade, vigorosas e determinantes na sua faina de descobrir as verdades científicas, morais e sociais como o fizeram Sócrates, Jesus, Lincoln, Pasteur, Gandhi, Einstein, e tantos outros. A busca do saber e do conhecimento não lhes subia à cabeça, mas lhes saturava de alegria suas personalidades simples, porém de imensa e vigorosa vitalidade. Foram exemplos dignificantes de humildade perante a sabedoria de que eram dotados, pois os homens verdadeiramente sábios são aqueles que sabem que nada sabem. Esse sentimento, que é de verdadeira humildade, não inferioriza ninguém, antes engrandece as criaturas.
Não será nunca demais repetir que a humildade será sempre diferente da personalidade submissa ou humilhada e inferiorizada. A verdadeira humildade não empana o brilho próprio da criatura, embora aos olhos da moderna sociedade competitiva, em que se realça o valor das coisas materiais, ser humilde é interpretado como fraco, desprezível, despreparado para a vida e, por isso, devem tais criaturas ser passadas para trás na luta pela vida. Grande e ledo engano! Assim pensar é confundir valores morais e espirituais permanentes, verdadeiros e eternos com valores materiais, perenes e de curta existência. Mas, também, não se deve confundir o humilde com criaturas que estão sempre de caras compungidas e mãos piedosamente juntas! Cuidado, pois, com as aparências enganadoras, que, muitas vezes, esconde uma personalidade hipócrita, quando não maldosa.
É importante perceber, com clareza, que o trabalho de cada um, principalmente o trabalho criativo, só é possível de ser levado adiante com benefícios concretos para a humanidade, porque muitas criaturas reconheceram antes o trabalho fecundo de outras e sobre tais trabalhos agregaram a sua parte ou os modificaram de modo a aperfeiçoá-los. Shakespeare utilizou peças teatrais escritas por outros e Mozart, também, partiu de peças musicais já existentes. Muitas invenções só foram possíveis devido a esse procedimento, que leva ao progresso material. Esses grandes homens sabiam que o trabalho de cada um provém de tudo o que foi feito antes e que, se tiver algum mérito, transcende a fonte e passa a fazer parte do vasto reservatório do saber humano. Há, nesse processo, grande dose de humildade, em que ser humilde é não querer fazer tudo sozinho, mas aproveitar parte do que existe e aperfeiçoar. O condenável é o plágio, simples cópia do que existe, ainda que maquiado ou desfigurado, sem nada ser agregado e melhorado.
É preciso ter olhos para ver e até estimular pessoas dotadas de grande humildade, porque muitas são, também, tímidas e precisam de um pequeno “empurrão” para realizarem aquilo que pretendem, já que podem possuir um grande potencial realizador, mas ainda não tiveram a oportunidade de pô-lo em prática. Se agirmos com dignidade, poderemos reconhecer a humildade de muitos e ajudá-los efetivamente a darem o melhor de si.
Ser humilde é não se vangloriar nunca! Aquele que já se ergueu na vida e possui elevados valores morais e espirituais não se preocupa com o brilho que possa ter e sabe calar-se sobre seu próprio merecimento, pois sabe muito bem que nunca se arrependerá do que não disse. Sabe, também, que o orgulho escondido sob o manto da falsa humildade é o pior dos vícios, conforme já nos ensinava o pensador romano Marco Aurélio.
O Racionalismo Cristão, através de seu Mestre codificador, Luiz de Mattos, enfatiza: “Humildes, mas nunca subservientes, sempre conscientes de que neste mundo ninguém é mais do que outrem porque tem mais dinheiro, maior poder, melhor condição social graças ao grau de instrução ou aos bens materiais”.
Finalmente, não podemos e não devemos esperar a humildade total de nós mesmos ou de nossos semelhantes, do mesmo modo que não podemos esperar ter a sabedoria total de todas as coisas. O que precisamos é sabermos o que é prático, pelo que a vida nos ensina e isso exige experiência e tempo. Mas, ao final, a vida não passa de uma grande lição de humildade, que nos leva a meditar sobre todas as coisas que sabemos serem maravilhosas, mas desconhecemos ainda porque assim o são. Citamos aqui Helena Blavatsky, que muito contribuiu para a credibilidade do espiritismo, como notável médium que foi e que disse: “Sê humilde se queres adquirir sabedoria. Sê mais humilde ainda, quando a tiveres adquirido."