CARÁTER
Para começar este tema vamos nos apoiar no que dizem os dicionaristas. Para eles, em resumo, caráter é definido como sendo o conjunto ou somatória de qualidades inerentes a um indivíduo, o modo de ser de um indivíduo que lhe determina a concepção moral e a canaliza na forma de conduta ilibada e atitudes corretas perante a vida. Assim, o caráter se destaca como sendo o repositório dos valores morais e espirituais do ser humano. Ele é, pois, um dos mais marcantes traços da personalidade humana, refletido que é no temperamento próprio de cada ser quando este se relaciona com seus semelhantes.
Dito de outro modo, o caráter representa a maneira usual de agir de cada indivíduo, sendo o grande diferenciador das atitudes que o ser humano toma nas atividades do seu dia-a-dia. Daí, concluir-se que o caráter é um atributo complexo ou de super-valor do espírito que mais tempo leva para ser purificado, através de numerosas encarnações, para processar a evolução do espírito de forma mais acelerada.
Nós sabemos que tudo que realizamos passa antes pelo pensamento e pelo raciocínio, sendo ambos, por excelência, atributos do espírito. Daí porque, é necessário dar a maior atenção possível ao que se está pensando e fazendo. Há um ditado de fundo filosófico que diz a um só tempo: nós somos o que pensamos, o que queremos que os outros acreditem o que somos e o que realmente somos. Dificilmente podemos fugir dessa realidade: somos ao mesmo tempo as três realidades. O que vai fazer pendermos mais para uma do que para a outra são as nossas boas ações de cada dia. Para isso, contamos com a nossa força de vontade firmada em nossas boas intenções.
Assim, para garantir uma conquista permanente de bom caráter é preciso muita determinação e firmeza de propósitos, sempre dirigidos para o próprio bem e para o bem comum da humanidade. A essa firmeza devemos acrescentar a coragem e o entusiasmo, nobres valores dos quais devemos nos impregnar para bem cumprir com nossos deveres, sempre num esforço persistente, sem esmorecimento.
Daí, também, ser necessário conhecermos nossos pontos fracos e trabalhá-los com sinceridade e determinação para fazermos as transformações necessárias em nosso caráter, ou seja, passarmos por uma depuração que leva ao conhecimento espiritual da vida. Só assim estaremos construindo o nosso caráter, que como dissemos, começa com os nossos pensamentos e nossas criações mentais em prol do bem comum. Essa é a longa luta para nos livrarmos definitivamente de nossos instintos primitivos, produtos de vidas pregressas mal vividas.
O ser quando nasce trás consigo seus traços morais adquiridos em outras vidas. Em cada encarnação o espírito agrega e burila o seu caráter, em função da família em que nasceu e do ambiente em que vier se estabelecer para viver sua vida atual. É no lar, e disso estamos convencidos, que este atributo se renova em função dos ensinamentos e dos exemplos de honradez, dignidade e integridade recebidos dos nossos pais, principalmente sob a forma de exemplos bem vividos. O caráter não se adquire nas escolas; estas dão tão somente instrução e educação preparando as criaturas para enfrentarem a vida nos seus aspectos profissionais; no entanto, é no lar que se adquire e se forja o caráter. Enfim, o caráter é algo que nos embates da vida vai recebendo constantes lapidações e agregações que tornam os indivíduos eticamente mais valorosos para si mesmos e para os que o rodeiam.
É também sabido que a qualidade do nosso caráter depende de inúmeros traços éticos e morais que contribuem para o nosso desenvolvimento espiritual. Para descobrir isso, temos de descobrir onde estão os nossos pontos fracos e as nossas qualidades e não ter medo de transformar os primeiros nas segundas. Assim, é analisando a natureza de nossas falhas e erros que podemos encontrar uma direção para melhorar nossos defeitos e chegar a pautar uma vida mais equilibrada e serena do que nas vidas pregressas. Do ponto de vista prático, devemos realizar exercícios tendo por base uma lista de qualidades e defeitos, em que deveremos incluir os sentimentos e emoções e seus contrários, principalmente os diretamente relacionados ao caráter e que desejamos modificar ou aperfeiçoar. Diariamente, devemos conferir o nosso progresso, ainda que seja um de cada vez, transformando os pontos fracos em pontos fontes. E, quando tivermos bastante certeza que fizemos jus a isso, risquemos de nossa lista este sentimento ou emoção. É claro que se trata de um esforço de nossa vontade e exame constante e permanente de nossa consciência a respeito disso, para o que precisamos ser honestos e sinceros conosco mesmos. Para isso, enterremos de vez a hipocrisia.
Recomendamos que nesta listagem sejam incluídos, entre outros, os seguintes pares de atitudes relacionadas com os nossos sentimentos e emoções, na ordem defeito/qualidade, a saber: indigno/digno; tenso/calmo; desonesto/honesto; mentiroso ou falso ou hipócrita/verdadeiro; arrogante/humilde; injusto/justo; egoísta/altruísta ou generoso; vaidoso/simples; indiferente/cuidadoso ou zeloso; deprimido/alegre; descortês/cortês; ríspido/bondoso; desconfiado/confiante; leviano/íntegro; medíocre/altaneiro; fraco/forte; inseguro/seguro; indolente/diligente; medroso/corajoso; intolerante/tolerante, respeitoso/desrespeitoso; sonhador/realista; ressentido/clemente; desanimado/animado; impaciente/paciente; e, acima de tudo sejamos racionais. Se você precisar, peça a um amigo verdadeiro que o acompanhe nesta difícil tarefa. Em pouco tempo, a pessoa constatará grandes e benéficas mudanças em seu caráter.
Neste ponto, gostaríamos de exaltar alguns dos atributos de caráter que Jesus, o Cristo praticou quando de sua passagem pela Terra: 1) amor na sua mais pura acepção (ágape) – manifesta-se na disposição de doar a si mesmo ou servir ao seu semelhante; 2) alegria – que independe das circunstâncias; 3) paz de espírito – que não se perturba diante das adversidades; 4) magnanimidade – tolerância para suportar os momentos difíceis; 5) benignidade – disposição graciosa para fazer o bem; 6) bondade – prática da benignidade ou, mais precisamente, da generosidade; 7) fidelidade – a confiança que permanece apesar das vicissitudes; 8) mansidão – submissão às leis naturais e imutáveis e humildade em relação ao próximo; 9) domínio de si próprio – controle diante das perturbações e tentações; 10) paciência – compreensão e aceitação das falhas de seus semelhantes. Estes são alguns pontos marcantes da personalidade de Jesus que devem ser usados como modelo a ser seguido quanto à melhor conduta para aperfeiçoar o caráter na nossa trajetória evolutiva.
Assinalamos que tanto Jesus como seus discípulos eram homens como nós, na maioria pessoas rústicas, todas sujeitas a erros. Sendo homens sujeitos às mesmas paixões que nós, todos estavam sujeitos às grandes falhas ou aos pequenos deslizes. Todavia, apesar dessas limitações humanas, todos alimentavam intenso e profundo desejo de melhorar, de crescer e de aperfeiçoar-se. É preciso notar que nossas imperfeições não justificam qualquer tipo de acomodação espiritual ou moral. E, ainda, a transparência das diversas facetas do caráter não preocupa aos espíritos realmente superiores, pois esses nada têm a ocultar, omitir, iludir ou esconder de seus semelhantes, da mesma forma que os espíritos superiores encarnados não se melindram por nada do que lhes é apontado como falha por seus semelhantes.
Não deixemos jamais que nossos atos sejam contaminados pela profunda crise de integridade de caráter que vem abalando a humanidade em todos os paises e em todas as atividades humanas.