CALÚNIA

01-12-2010 00:49


A calúnia é um sentimento pesadamente negativo, impregnado de cruéis pensamentos de maldade porque atinge diretamente ou tenta atingir a reputação de pessoas de ilibada conduta moral e social. Tão grave é o ato calunioso que está previsto no nosso Código Penal como crime torpe e nefando, diferentemente da difamação, esta visando tirar apenas a boa fama e o crédito de pessoas honradas, sem, contudo, causar um mal grave e irremediável. Portanto, embora uma e outra representem ofensas à honra, trata-se de graus diferentes. A calúnia queima como fogo, a difamação nem tanto.

Há, ainda, os mexericos, que são formas de calúnia menos ofensivas, de caráter menos grave, passados de boca em boca em conversas soltas ou nos chamados “papos furados”, bem como, através de longas conversas de “comadres” ao telefone ou nas “rodinhas” formadas em reuniões sociais. São pequenas sementes do mal, plantadas aqui e acolá por criaturas sem escrúpulos e jogadas ao vento... Palavras os ventos as levam, diz o ditado popular. Mas, quando estas estão eivadas de maldade, não são tão voláteis assim, acabam encontrando quem as propaguem, fincando raízes, não em terreno fértil, mas no lodaçal das desgraças humanas. É preciso, portanto, que as criaturas saibam repelir essas ações, fazendo ouvidos moucos ou, ainda que tenham algo de verdade, saibam guardar segredo ou, melhor ainda, procurem esquecê-las. Esta é a melhor conduta, pois concordar com a maledicência nenhuma criatura de espírito forte e moral elevada poderá aceitar. A propósito, leiam nosso tema “A Maledicência”, no livro “Reflexões sobre os Sentimentos”.

Com o progresso da ciência, principalmente dos meios de comunicação e da mídia falada, escrita e televisiva, a difusão da calúnia tornou-se muito mais fácil, mais instantânea. Jornalistas, colunistas sociais e comentaristas inescrupulosos transformam facilmente certos boatos em pseudofatos, detratando a dignidade alheia. Vemos e ouvimos isso a todo instante, principalmente na alta sociedade, nas colunas sociais e no mundo político. Há quem já disse que “a política não é o reino dos bons sentimentos, mas da astúcia” (de Julien Freund, citado por Jarbas Passarinho, em artigo publicado pelo “O Estado de S. Paulo”). O detrator ou caluniador esconde-se, quase sempre, alegando tratar-se de informações ou notícias obtidas de “fontes bem informadas” ou fundadas em documentos forjados e, portanto, falsos. Estes são obtidos por via ilegal e criminosa, como os casos de “grampos telefônicos”, aplicados sobre autoridades, políticos ou empresários famosos. Neste último caso, defrontamo-nos com a espionagem industrial e comercial, aplicada para proveito material ou para chantagear as criaturas, suas vítimas.

O mal da calúnia é difícil de ser reparado, principalmente porque a mesma fonte que a disseminou nem sempre está facilmente disponível para o caluniado ou, quando este tem a oportunidade de retrucar e se defender, o mal já está feito e não será lido, ouvido ou visto pelas mesmas pessoas que tiveram a oportunidade de fazê-lo quando a calúnia foi propagada. Aí, então, a conduta, a reação do detratado só pode ser uma: recorrer à Justiça, morosa, com sentenças dúbias e nem sempre favoráveis ao caluniado. A reparação desse mal é, portanto, muito questionável e difícil.

A calúnia jamais poderá ser respondida pelo silêncio, pois este seria o triunfo do caluniador. A melhor resposta, ainda que difícil, como ficou dito acima, é o desmascaramento do caluniador, quando for possível identificá-lo. O ofendido tem que desmascarar o seu detrator, já que teve a sua honra e sua dignidade ofendidas, verdadeiros valores do caráter das criaturas. À calúnia, sendo a arma dos inescrupulosos, é preciso se lhe opor o peso da verdade. Não é fácil, “mas tudo vale a pena, quando a alma não é pequena”, como já o dissera o escritor e poeta Português Fernando Pessoa.

Pela calúnia, através dela, o caluniador tritura as qualidades da criatura, atinge em cheio a sua honra, tenta apagar o seu brilho e o seu prestígio, sempre objetivando um fim material que se consubstancia em um ou outro tipo de vantagem. Mas, o que é indubitável é que o caluniador é sempre um covarde, o maior dos covardes, já que procura sempre se esconder atrás do anonimato.

Quando a calúnia tem por fim principal a chantagem, atinge diretamente os empresários, financistas, banqueiros, chefes de família, líderes religiosos e, também, políticos. Neste caso, para todos eles, a melhor defesa é a probidade, mas também, é o melhor alvo. Isto porque o caluniador não sendo probo, não tendo o caráter reto e sendo indigno ataca aquilo que não possui de melhor e não consegue alcançar por meios legítimos o sucesso e a fama que seu detratado tem de sobra. Junte a tudo isso uma pitada de inveja e está formado o quadro nefasto do qual se vale o caluniador.

O caluniador procura valer-se, procura firmar-se na suspeita, que mesmo de leve, basta para que muitos dêem crédito à calúnia. Nos meios políticos, nas câmaras dos representantes (Câmara Federal e Senado, Assembléias Estaduais e Câmaras de Vereadores), onde quase sempre impera o jogo da vaidade e a exibição gratuita de falsos méritos, os representantes do povo invocam o chamado decoro parlamentar que lhes dá imunidades, verdadeiro escudo de proteção. Mas, isto está chegando ao fim, felizmente para o povo, já que é muito difícil livrar-se da suspeita de ordem ética, que deixa marcas profundas na consciência daqueles que não são criaturas probas.

O caluniador deve sempre ser rejeitado, posto de lado pelos homens de bem, já que pode ser comparado a um estuprador comum. Com julgamentos precipitados e açodados ele atira lama na honra das criaturas de bem, tentando marcá-las moralmente, e sempre está disposto a enfrentar o risco da denúncia, pois não tem nada a perder do ponto de vista ético e moral. Lançada a dúvida e a suspeita, a mídia se encarrega do resto e o mal está feito.