BOM HUMOR
“Nós não rimos porque estamos felizes. Nós estamos felizes porque rimos” - William James (1842 – 1910).
O bom humor é uma emoção, uma reação do organismo que vem da própria atitude da criatura, de forma inusitada e até mesmo instintiva, denotando que a pessoa está de bem com a vida. Não estamos falando aqui das expressões faciais exageradas, mas de atitude equilibrada, afável, transmitida por reações faciais naturais através dos diferentes e muitos tipos de sorriso. É sabido que podemos sorrir até com os olhos, embora mais difícil de se perceber. Qualquer que seja a demonstração de bom humor ela traz saúde para o corpo e alento para o espírito e ajuda a manter em alto astral as relações com os nossos semelhantes, aproximando as pessoas.
O bom humor está diretamente associado a um estado físico – o riso e, com um estado de espírito ou atitude do mais alto grau – a alegria. Ambos provocam alterações no organismo, de natureza hormonal, que contribuem sabidamente para eliminar as tensões e ansiedades da vida moderna nas grandes cidades.
Há grupos de trabalho em quase todos os grandes hospitais do mundo, dirigidos por médicos de renome, que estudam o efeito do riso na aceleração da cura de muitas doenças graves, mostrando que o estado de espírito e o bom humor dos pacientes contribuem, de forma inacreditável, na rápida recuperação destes. No Brasil, em São Paulo, já foi noticiado que um grupo de atores faz apresentações de peças cômicas, usando até palhaços e contadores de piadas com o mesmo objetivo e com resultados surpreendentes.
Uma revista – Seleções do Reader’s Digest, publicada mensalmente, manteve por muito tempo e creio que ainda mantém uma seção com o título “Rir é o melhor remédio”, cujo tema é sempre uma história engraçada, mas verídica, mostrando os efeitos salutares do riso na vida das criaturas. Está, portanto, mais que provado que o bom humor é um forte aliado na saúde das criaturas.
Segundo o Prof. Antônio Jayro da Fonseca Motta Fagundes, da Universidade de Guarulhos, São Paulo, existem três tipos de riso: o riso fechado, em que há distensão dos lábios para trás e para o alto, mas não se abre a boca e no máximo se contraem as pálpebras; o riso superior, com a boca semi-aberta, que revela apenas parte dos dentes; e, a gargalhada, que é a forma mais expansiva do riso, em que se pode, também, morder o lábio inferior, balançar a cabeça, mexer o tronco, os braços e as pernas e, até chorar de rir, porque a contração das pálpebras pressiona os canais lacrimais. Assim, uma boa gargalhada acaba envolvendo o corpo inteiro, com sucessivos espasmos do diafragma e os movimentos alternados de contração e relaxamento dos músculos respiratórios favorecem os pulmões e o coração, ampliando a caixa torácica. É óbvio que estas alterações elevam a temperatura do corpo e a pressão arterial, deixando a criatura em estado de esfuziante bem-estar. Mas, a grande vantagem de dar boas gargalhadas é que, passada a euforia, os músculos relaxam-se totalmente. Daí, ser o riso um remédio excelente e barato contra a hipertensão, o estresse e as dores causadas por tensão muscular.
Há indícios, constatados por pesquisadores médicos, como os realizados por William Fry, da Universidade Stanford, California, USA, que estuda o riso e o bom humor há mais de 35 anos, mostrando que a gargalhada detona uma reação em cadeia das glândulas endócrinas, liberando, entre outras substâncias, os analgésicos naturais do organismo – as endorfinas. Depois de introduzir o humor na rotina de recuperação de seus pacientes convalescentes, ele notou uma queda no consumo de medicamentos contra a dor. Evidentemente, isto explica, também, o relaxamento muscular que segue a uma boa sessão de gargalhadas.
Mais do que foi exposto no parágrafo anterior, há estudos em curso que mostram que o riso também deflagra a ativação e a produção de imunoglobulina IgA, anticorpo responsável pelo combate aos germes que produzem infecções respiratórias, detectada por testes feitos na saliva de grupos que passaram por uma sessão de gargalhadas. O resultado consta de trabalho realizado por Kathleen Dillon, psicóloga do Western New England College de Springfield, Massachussets, USA. Esta pesquisadora provou, ainda mais, que os benefícios do riso são cumulativos como os exercícios físicos, surgindo, assim, um grande reforço no sistema imunológico das criaturas bem-humoradas
Assim, fica claro, também, que os efeitos do riso se estendem ao plano psicológico e há quem defenda a tese de que “nós não rimos porque estamos felizes; nós estamos felizes porque rimos”, citação constante do pós-título deste tema. Testes feitos por Patrícia Ricelli e seus colaboradores, da Universidade de Alegheny, Pensylvania, USA, mostraram que o franzir das sobrancelhas tornam as pessoas tristes e deprimidas. Mais que isso, Robert Zajonc, da Universidade de Michigan, USA, supõe que as expressões faciais alteram a temperatura do sangue enviado ao cérebro, justamente para o hipotálamo, a estrutura que regula as reações do corpo ao frio, ao calor e às emoções.
Os benefícios do riso vão muito além e invadem, de fato, o campo psicológico das criaturas, estando, também, já provado que após uma sessão de risadas, as criaturas têm melhor condição de resolver problemas, liberando a mente de seus padrões racionais e dando espaço ao raciocínio lúcido e à criatividade. Explica-se isso pela concentração atingida durante a sessão de risadas, causada pelo interesse focalizado no objeto da atenção, ainda que essa concentração seja subconsciente. É o que consta dos estudos de M. Isen, psicóloga da Universidade de Cornell de Ithaca, Nova York, USA.
Basta observarmos ao nosso redor para constatar que as pessoas bem-humoradas sabem lidar melhor com seus próprios conflitos e com os de seus semelhantes. Não há quem se oponha, de saída, a uma criatura bem-humorada. O bom humor é irmão gêmeo da simpatia e a ela está associado, tirando as pessoas da posição defensiva, desarmando os espíritos onde estiver presente. Além disso, o bom humor ajuda as criaturas a saírem-se bem nas várias situações no trabalho e nas interações da vida cotidiana, desempenhando melhor as suas tarefas. Provavelmente, isso acontece porque o bom humor nos leva à criatividade, ao uso da inteligência e à flexibilidade para adotar novas técnicas e objetivos. Por isso, nada é mais verdade que a frase “O riso é a menor distância entre duas pessoas”, criada pelo professor de psicologia Harvey Mindess, da Universidade de Antioch, Los Angeles, USA. Ele ajuda a quebrar o gelo no primeiro encontro, destrói as barreiras e coloca as criaturas em estado de empatia, tanto nos negócios como na vida íntima.
O segredo para adotar e manter um estado de bom humor é conscientizar-se de que os problemas e conflitos são passageiros e melhores resolvidos por um raciocínio lúcido apoiado na racionalidade dos fatos. O resto é questão de atitude confiante nas suas próprias forças a ponto de não se deixar levar por sentimentos negativos, lembrando sempre que a melhor forma de desarmar o seu semelhante e se livrar do embaraço é rir das próprias mancadas.
Não é demais lembrar que, na infância, a maior parte do tempo das crianças, já desde os 3 – 4 meses de idade, é dedicado às brincadeiras. Isso não só demonstra situação de boa saúde física e psicológica, mas um meio eficaz de comunicação. Ao reconhecer situações engraçadas e interagir com os membros adultos da família, os “baixinhos” podem nos ensinar, com o bom humor e o riso, a vivenciar agradáveis e memoráveis disposições de espírito, que a todos engrandecem.