AUTO CONTROLE E CONTROLE

01-12-2010 00:42


São os procedimentos ou hábitos opostos arraigados na vida das criaturas que, muitas vezes, tornam insuportável o relacionamento e a convivência com nossos semelhantes. Não existe nenhum recurso mais poderoso para controlar nossos próprios sentimentos do que o autocontrole, qualquer que seja o seu projeto de vida. O autocontrole se manifesta na forma de talentos inatos que a criatura pode e deve pô-los em ação. É o autocontrole que nos leva à serenidade e paz de espírito. Já o controle que procuramos impor aos outros geram tensões e conflitos os mais disparatados e, quando não vigiado pela criatura, torna-se um hábito intolerável, porque cerceia a liberdade e acaba tolhendo o livre-arbítrio daqueles que pretendemos controlar, massacrar, dominar ou até mesmo escravizar em nosso proveito, gerando uma carga muito grande de angústia na pessoa.

Convém assinalar que tentar controlar e manipular cada pensamento, sentimento ou ato de seu cônjuge, por exemplo, não é uma forma de protegê-lo, mas implica, na verdade, em sua proteção. Nem tampouco é uma forma de generosidade. Na realidade, ambos perdem com esse tipo de controle oriundo da desconfiança, da presunção de deslealdade, do ciúme e da baixa auto-estima de um deles. Esse esforço de controlar resulta sempre negativo e desperdiçado para ambos, causando grande dano à relação conjugal.

Agradar não é bajular, agradar é uma arte. Não é preciso abdicar de nossas preferências nem fazermos um esforço sobre-humano de adaptação e tolerância para manter uma convivência salutar, equilibrada e harmoniosa com o nosso cônjuge. Devemos sim, é fugir desses impulsos egoístas, de querermos ser o centro do mundo, o centro das atenções, ainda que tenhamos um grande apego à auto-estima. Temos que ceder, alguma coisa tem que ser sacrificada para que os relacionamentos sejam ajustados e desencadeiem um mínimo de atritos e conflitos. O segredo está em vigiarmos bem de perto, o tempo todo, qualquer desvio maior do autocontrole para o controle, a tentativa de domínio de um pelo outro. Há pessoas que controlam o tempo todo e exigem, inconscientemente, um grande retorno. Esperam ser notadas, admiradas e amadas por tudo o que fazem e sacrificam. Se não obtêm o retorno esperado, ouvimos dizer coisas como: "depois de tudo o que fiz esta é a minha recompensa", ou então, "você me pagará por me ter feito sofrer tanto". São formas de desabafo que revelam muito da visão errada que têm do verdadeiro sentido da vida.

O controle exercido dessa forma causa um grande dano às criaturas e aquelas que não se dão conta desse processo e de seus efeitos nefastos sofre muito e faz os seus familiares também sofrerem. Não percebem que um esforço mal direcionado e totalmente desperdiçado causa enorme dano à relação. O relacionamento torna-se falso, áspero, azedo. E, por que esta mania de controlar o seu parceiro? Muitos deles ou delas controlam ou procuram controlar porque consideram os seus parceiros fracos, irresponsáveis, não confiáveis. Ou, então, sabem que vieram de lares violentos ou de pais alcoólatras e não podem confiar. Querem, em vão, colocá-los na linha. E tudo pode acabar em terrível e insuportável solidão.

É preciso compreender que, em grande parte, os diversos tipos de controle com que nos deparamos na luta pela vida não são formas de poder, mas sim fraquezas humanas que decorrem da falta de confiança em si mesmos (autoconfiança). Por isso, será muito bom analisarmos as diversas formas de controle para depois analisarmos as maneiras possíveis para deixarmos o hábito de controlar.

Vamos relacionar seis formas comuns de controle que se encaixam na categoria de maus hábitos e, portanto, precisam ser eliminadas para dar um viver mais salutar às criaturas:

1. Controlar por falta de confiança.

2. Controlar objetivando obter amor a qualquer custo, resultante da própria insegurança ou medo de perder o relacionamento.

3. Controlar na tentativa de obter auto-estima, o que leva à ilusão de eficiência e poder, procurando, na verdade, dominar o tempo todo.

4. Controlar por se sentir responsável pelo(a) outro(a), por lhe querer o melhor, pela sua proteção. É preciso cuidado com os excessos de zelo, pois, quem é exigente pode tornar-se mais exigente ainda, da mesma forma que quem é agressivo pode tornar-se mais agressivo ainda.

5. Controlar por sentir-se intensamente angustiado(a), isto é, sobrecarregado com seus próprios sentimentos e emoções que vêm acompanhados de tristeza, raiva ou frustração. Isto é assustador e causa muito sofrimento às criaturas, já que deixa exposta toda a sua vulnerabilidade de se apanhar em tais situações e mostrar-se o quão imaturo(a) é.

6. Controlar obsessivamente para resolver problemas de relacionamentos acumulados e, cuja solução, foi continuamente adiada por conveniência, por fraqueza ou por excesso de tolerância.

Para deixar o hábito de controlar a criatura tem que fazer um esforço muito grande e contrário, o que significa adquirir o hábito salutar do autocontrole. Isto parece óbvio, mas nem sempre é assim e o desafio é perceber que este esforço vale a pena para evitar o desmoronamento de muitos lares e a ruptura de muitos relacionamentos na vida das criaturas tidos como bons. Portanto, são listadas, a seguir, as seis maneiras de contrapor-se aos hábitos de controlar anteriormente comentados na mesma ordem:

1. Apostar na confiança que resulta no respeito mútuo que cada um deve ter pelo seu semelhante. Confie nesta solução!

2. O verdadeiro amor exige altivez de espírito, desprendimento, não a posse forçada do(a) outro(a). Nunca force o que tem que ser natural e espontâneo. Isso eliminará uma grande fonte de aborrecimento em sua vida. Aposte na força da simpatia e da empatia.

3. A auto-estima vem da força espiritual de cada um e funda-se na confiança; ela não resulta da demonstração de poder e domínio sobre outras pessoas. Procure reforçar em si este sentimento.

4. Nós só somos responsáveis pelos nossos filhos enquanto crianças. De posse do livre-arbítrio, cada um é cada um e é responsável por si mesmo e pelos seus atos. Com relação ao seu parceiro ou cônjuge, deixe de vigiar, deixe de bancar o detetive e nunca mexa nas suas coisas particulares (bolsa, carteira, gavetas, etc.).

5. Cada um sabe ou deve saber o que é melhor para si e, portanto, não adianta malhar em ferro frio. Tenha mais autocontrole. Repila as implicâncias e contenha-se dentro de seus próprios defeitos e méritos. Lembre-se de que o aperfeiçoamento é sempre pessoal.

6. A impulsão que leva à obsessão de controlar precisa sempre ser refreada. Muitas vezes, temos que "engolir" a própria raiva e desapontamento. Esforce-se por não tê-los.

Finalmente, procure não deixar sua vida em "suspense", tentando adiar problemas de seu relacionamento, seja dentro ou fora de seu lar, pois ninguém é obrigado a fazer o que não quer. Uma vida limpa de problemas é uma vida mais saudável, mais feliz. Está em sua vontade obter e manter as condições de sustentabilidade para ser feliz e o autocontrole é apenas uma das ferramentas entre tantas, mas seu uso eficaz muito ajuda.