As virtudes eternas (2)

05-09-2012 19:33

 

https://www.arazao.net/as-virtudes-eternas-2.html

Caruso Samel
 
Vimos, na primeira parte deste artigo, publicada em agosto de 2012, que as virtudes são eternas e seu aprendizado começa aqui na Terra, passando pelos bons sentimentos e destes para as virtudes relativas que compõem a formação do bom caráter das criaturas. Ora, como a formação do caráter é uma responsabilidade intransferível dos pais, cabe a estes uma nobre e importante missão. Esse preparo é essencial para acelerar a evolução do espírito enquanto estiver encarnado.

Entendido, portanto, que o lar é o núcleo essencial para transferir conhecimentos morais e éticos, é nele que se inicia a educação espontânea, cercada de muito amor e carinho dos genitores para os primeiros passos das crianças neste sentido. Não se trata de impor regras e situações às crianças, mas de manter um convívio de camaradagem que deve vigorar de forma natural, partindo dos pais as sugestões de posturas e atos que levam à formação do bom caráter de seus filhos. Vamos procurar esquematizar aqui um conjunto de sugestões ou roteiro para ajudar os pais nesta difícil tarefa.

Da mesma forma como para os sentimentos e as emoções, o quadro das virtudes enumeradas por diferentes autores varia entre 15 e 25 virtudes. Não tem grande importância fazermos uma descrição operativa de cada uma delas, mas sim de visualizar uma série de sugestões que não se traduzem em um plano propriamente dito, mesmo porque as necessidades de seu desenvolvimento vão variar para cada família em particular. Assim, não vamos destacar uma virtude ou outra. Antes, queremos enfatizar que o que interessa mais de perto é o conjunto de virtudes a serem desenvolvidas no caso específico de cada família, para termos um grau de certeza razoável de que a semente bem plantada vicejará nas mentes dos infantes. Mesmo assim, respeitadas as diferenças e as preferências por parte dos pais, três virtudes são essenciais a todo e qualquer esquema neste sentido, que são o otimismo, a paciência e a perseverança.

Tão importante é esta questão que encontramos um site intitulado Portal da Família - https://www.portaldafamilia.org/ -, que trata especificamente deste tema de ensinar as virtudes no seio das famílias. É verdade que é preciso levar em conta que cada família é diferente e, bem assim, cada pai e cada filho. Portanto, para considerar um aprendizado das virtudes por idades é preciso levar em conta os traços gerais das estruturas das idades, bem como as tendências de desvios de conduta e a natureza das virtudes. É isso que esse site faz, numa série de cinco abordagens que vamos tentar expor neste nosso trabalho. A atitude aqui é dividir a infância em dois períodos e a juventude, também, em dois períodos. O que se segue é um roteiro orientativo.

No período que se estende até os sete anos, recomendamos aos pais desenvolverem nas crianças a obediência, a sinceridade e a ordem. Os pais precisam infundir, sobretudo, orientações racionais e confiáveis; transmitidas com muita sinceridade, dando o exemplo sobre o que ensinam. Os pais devem passar as orientações de forma bem clara, sem confusões. 

A autoridade que cabe aos pais vem naturalmente, e os filhos a aceitam de bom grado; não é preciso impô-la. É preciso sempre saber conceder os méritos aos filhos, sem privilégio de uns sobre os outros, para que a obediência impere. Jamais impor o medo às crianças, por ser um pobre e grosseiro motivo, mas adotar o carinho e a compreensão, que as levam a cumprirem seus deveres. Usando compreensão e muito amor, o convívio entre pais e filhos é harmonioso, levando os filhos em direção à virtude da generosidade, que veremos mais adiante. A ordem é necessária para que os filhos adquiram responsabilidade pelas pequenas tarefas caseiras e escolares, cada um aprendendo a cuidar do que lhe compete e assim aprendendo a cumprir os seus deveres.

No segundo período da infância, que se estende dos 8 aos 12 anos, o ensino das virtudes deve concentrar-se na fortaleza de espírito, força de vontade, perseverança, laboriosidade, paciência, responsabilidade, justiça e generosidade. Aqui as crianças já são meninos e suas tendências negativas precisam ser podadas de vez. A fortaleza de espírito, um dos principais atributos do espírito, vem em primeiro lugar, porque de certa forma ela comanda as demais desta série de virtudes. Aqui os meninos começam a tomar mais decisões pessoais e os pais não devem deixar de traçar os critérios e alguns limites em suas ações, ensinando-lhes o verdadeiro sentido da responsabilidade, da generosidade e da justiça. Os desafios começam a aparecer e é preciso saber enfrentá-los com bom senso e coerência. É preciso centrar a atenção dos meninos mais neles mesmos e menos em outras pessoas. O seu pensamento deve voltar-se para os valores da família e o seu convívio no lar, com os pais, irmãos e irmãs. Incutir nos filhos a necessidade de aprenderem o valor da superação de seus pequenos problemas. Ensinar-lhes o valor da laboriosidade; incentivá-los ou premiá-los sempre que superarem algum obstáculo. Isso fortalecerá a sua força de vontade e mostrará a necessidade da perseverança face aos obstáculos que podem levar a resultados inesperados. Finalmente, ensinar-lhes o valor da paciência no convívio com a família e amigos.

Terminada a pré-adolescência, chegamos, enfim, à adolescência ou puberdade, que vai de 13 a 15 anos. O adolescente é por natureza otimista e idealista, necessitando viver sua própria experiência de vida. A simplicidade ajudará o adolescente a ter bom senso e alcançar os seus ideais, sem as influências nocivas externas. O aprendizado aqui deve centrar-se nas seguintes virtudes: pudor, temperança, simplicidade, extrovertismo, amizade e respeito. É nesta fase que se inicia o descobrimento da intimidade e junto com ela o pudor. Sendo o período das paixões incontroladas, os pais precisam ficar bem atentos e orientar os atos de seus filhos para as virtudes apontadas, com fundamento na temperança ou ponderação. Nada de excessos. Há aqui absoluta necessidade de realçar o papel do controle da vontade. As virtudes do pudor e da sobriedade devem prevalecer para não caírem em enrascadas de grandes consequências negativas. As informações sobre a sexualidade devem ser dadas com precisão, sem rodeios de qualquer espécie, isto é, devem ser claras, curtas e concisas. Completar os ensinamentos de modo que os filhos possam voltar-se para “fora de si” em termos de extrovertismo, amizade e respeito. Estas virtudes têm a ver com a intimidade das pessoas e suas relações com as outras, externas à família.

O próximo e último período de intervenção paterna na formação do caráter dos filhos ocorre dos 16 aos 18 anos, com ensinamentos voltados para as seguintes virtudes: prudência, flexibilidade, compreensão, lealdade, audácia, humildade e otimismo. Estas virtudes exigem dos jovens capacidade de raciocínio inteligente, isto é, capacidade intelectual. Aqui os jovens recolhem e processam informações continuamente com o objetivo de consolidar esses valores e aprenderem a resolver de “cabeça fria” as situações mais embaraçosas. 

O uso da prudência e da flexibilidade lhes darão o chamado “jogo de cintura” para resolverem as situações com critério e equilíbrio, o que equivale dizer, terem compreensão e fazerem bom uso do livre-arbítrio. Os jovens aprenderão a abrir os olhos para o ambiente com segurança, isto é, terão a prudência de tomar decisões, ponderando as consequências. E a principal função dos pais aqui é sempre a de aconselhar, para que os jovens pensem bem antes de fazer qualquer coisa, e se firmem como pessoas autênticas, construam a sua personalidade e encarem a vida como um constante desafio voltado para sua evolução espiritual. A lealdade deve ser uma constante nos seus atos. 

Finalmente, a humildade e o otimismo, que, embora realçados nesta fase, devem acompanhar o desenvolvimento das crianças e dos jovens em todas as fases. E seu principal objetivo é o de colocar em evidência que vale a pena viver e lutar por seus ideais.

Para concluir este roteiro, cabe destacar que o objetivo essencial na educação das virtudes é plantar nas mentes das crianças e dos jovens a necessidade de adotar os quatro princípios do filósofo romano Marco Túlio Cícero que são a moderação, ponderação, justiça e valor espiritual. Estes quatro princípios levarão os jovens a se tornarem homens maduros e em condições de caminharem por si só nesta vida e aptos a conviverem bem com seus semelhantes, usando os atributos que lhes são próprios. Enfim, eles terão aprendido a caminhar com suas próprias pernas e a assumir as suas próprias vidas sem medo e com audácia para conseguirem um autêntico bem-estar.

(O autor, escritor, é militante da Filial Butantã-SP)