Arrogância, franqueza e modéstia

18-03-2013 20:09

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Caruso Samel 

Os dicionaristas são acordes em afirmar que arrogância é o ato ou efeito de alguém atribuir-se o direito, o poder ou o privilégio de ser mais do que o seu semelhante, muitas vezes sem o ser. Por extensão, diremos que a pessoa arrogante assume o caráter de quem possui uma suposta superioridade de comportamento com reflexos na área social, intelectual e até moral, e está sempre assumindo uma atitude claramente de prepotência e desprezo em relação ao seu semelhante. É mais que o simples orgulho - na verdade, é um orgulho ostensivo e ofensivo à dignidade humana. Trata-se, portanto, de um sentimento oposto à humildade, tema este que já apresentamos em nosso último livro, intitulado Valor dos Sentimentos, lançado em dezembro de 2012. 

Aquele que se reveste desse sentimento negativo é alguém que não sabe ou não quer ouvir a opinião dos outros, que não deseja aprender algo novo, que se julga estar em nível superior ao de seu semelhante, extravasando o seu orgulho e vaidade excessivos. 

Nós sabemos que a perfeição não existe na vida humana, fato esse que advém de reconhecermos que não existe verdade absoluta entre os humanos, mas tão somente verdades relativas que contêm erros ocultos ou até mesmo grosseiros, muitas vezes não aparentes. Então, reconhecer essa verdade é essencial para não nos tornarmos arrogantes. Não devemos confundir a arrogância com a autoconfiança, esta tão necessária aos indivíduos progressistas e bem sucedidos na vida profissional. As pessoas bem sucedidas sabem ouvir os seus semelhantes e reúnem qualidades de liderança para fazerem da união de ideias e trabalho verdadeiros fatores de sucesso em seus empreendimentos. Por isso, é importante não confundir arrogância com coragem, ousadia e liderança, fatores esses que trazem segurança aos negócios bem planejados e concretizados. Diferentemente, portanto, dos líderes ousados, os arrogantes quase sempre colecionam fracassos sobre fracassos.

Outro aspecto a levar em conta quando estamos considerando a negatividade imposta pela arrogância é a ausência de franqueza que acompanha os arrogantes. Inegavelmente, a franqueza e a sinceridade são qualidades que não fazem parte do perfil dos arrogantes. Esses dois sentimentos são afins, e estão em polo oposto ao da arrogância, embora não sejam a mesma coisa. É de se notar que a franqueza e a sinceridade trazem em seu bojo muitos benefícios às criaturas que as praticam, mas também podem causar grandes estragos, dependendo da situação em que são exteriorizadas. Vale a pena enfatizar que franqueza e sinceridade são sentimentos de relacionamento que causam impacto ao serem expressos. Enquanto a franqueza é a capacidade de dizer a verdade, a sinceridade envolve conteúdo moral e pode frear aquela em determinadas situações para filtrar a verdade, que se fundamenta em fatos, em dados incontestáveis ou apenas nos critérios individuais de quem os está expondo. 

Como ao expressar-se algo entram em jogo as emoções, de uns e de outros, o impacto causa reações internas favoráveis ou desfavoráveis no ouvinte, as quais precisam ser controladas. Enquanto o conteúdo da informação se reveste de sinceridade, os conteúdos da franqueza dependem da forma como o conteúdo da informação é apresentado.

Uma pessoa, em seu comportamento social, muitas vezes acaba por ocultar a verdade e deixa de ser franca, enveredando pela mentira, falseando a verdade. Até mesmo para ser gentis, muitas pessoas deixam a verdade de lado e acabam causando boa impressão, mas a médio e longo prazos o que disse pode causar grandes estragos e resultados indesejáveis. Isso acontece nos casos em que franqueza demais pode magoar uma pessoa. O que fazer, então? Fica no bom senso de cada um determinar qual o procedimento menos prejudicial. Se não houver necessidade de se manifestar, é melhor ficar calado.

Para terminar, poderíamos citar uma dezena ou mais de características que podem ser facilmente observadas numa pessoa arrogante, embora ela tente ocultá-las, destacando-se as seguintes: 

• O arrogante jamais se considera arrogante; 
• Liderando um grupo, quando este fracassa, a culpa é sempre dos outros;
• Impõe-se para ser ouvido, mas não procura ouvir ninguém;
• Humilha e detrata quem lhe desagrada.

HUMILDADE. Vamos dedicar o espaço restante deste artigo à modéstia. A pessoa modesta denota completa ausência de vaidade, não fica gabando-se de seus êxitos e realizações. Age sempre com sobriedade e moderação, fugindo dos exageros. Tem compostura e nunca se expõe, ainda que possua as qualidades que as circunstâncias estejam exigindo. A pessoa modesta apresenta completo desprezo ao luxo e à ostentação. É decente, tem pudor e se enquadra facilmente nos padrões éticos e morais demandados pela vida social. Enfim, a modéstia se aproxima da humildade e é o oposto da arrogância. 

A pessoa modesta assume seus deveres, obrigações, erros e culpas sem resistência, com naturalidade, características essas bem próximas às das criaturas que têm a virtude da humildade. Numa organização, industrial, comercial ou de serviços, a pessoa modesta reconhece e aceita o seu lugar sem reclamações. Se, além de possuir habilidades profissionais, souber trabalhar em equipe e tiver liderança, pode exercer efetiva garantia de sucesso à sua organização. Normalmente, é disciplinada e ordeira.

Agora vamos falar sobre a falsa modéstia. Resumidamente, esta é uma forma de vangloriar-se ou de humilhar-se falsamente. Quem age dessa forma estará renegando suas qualidades desnecessariamente. Ser modesto não implica ser apático.

Para finalizar este artigo, vale a pena citar alguns nobres pensamentos sobre modéstia:

• O silêncio, tal como a modéstia, ajuda muito numa conversação. Michel de Montaigne
• A falsa modéstia é o último requinte da vaidade. Jean de la Bruyere
• O que deve caracterizar a juventude é a modéstia, o pudor, o amor, a moderação, a dedicação, a diligência, a justiça e a educação. São estas as virtudes que devem formar o seu caráter. Sócrates
• É o orgulho que leva a dizer não, e a franqueza, sim. A modéstia pode dizer ambas as coisas sem paixão. Pierre Reverdy
• A falta de modéstia é a falta de senso comum. Alexander Pope 

(O autor, escritor, é militante da Filial Butantã-SP)