Ainda as emoções e os sentimentos

18-05-2012 16:48

 

Por Caruso Samel – Militante da Filial Butantã – São Paulo – SP

 

            Pode parecer demais insistir neste tema, iniciado com nosso artigo de fevereiro último neste jornal. Porém, tantas são as divergências entre estudiosos e pesquisadores deste assunto que nos sentimos encorajados a apresentar essa segunda parte do artigo anterior. O campo de estudo sobre as emoções é complexo e vasto. Neste artigo, nos deteremos sobre as teorias cognitivas que deflagram nas pessoas variações fisiológicas.

            Os sentimentos são duradouros, menos tempestivos e não são acompanhados de reações fisiológicas intensas, bem como, existem muitas formas de escondê-los. Já as emoções são muito difíceis de se esconder, pois são acompanhadas de reações corporais e espontâneas, às vezes violentas. Existe uma relação entre a racionalidade e as emoções, conforme estabelecido por António Damásio. Daí a grande dificuldade de reproduzir emoções através de máquinas, já que estas são irracionais. Podemos, ainda, constatar com certa freqüência, que a emoção apoiada na racionalidade ajuda em muitas situações a tomarmos decisões acertadas. Os sentimentos e as emoções são alvo de estudo da medicina, biologia, psicologia e filosofia. Tanto os sentimentos como as emoções estão presentes no nosso psiquismo cotidiano e não podemos viver sem eles.

            Etimologicamente a palavra emoção deriva da palavra latina emovere (de ex-movere) e significa “colocar ou passar para fora”. É fora de dúvida que muitas respostas hormonais e corporais têm origem nas emoções, de forma consciente (cognitiva) ou inconsciente (não cognitiva), mas estão muito longe de constituir a sua causa. Já vimos, também, que as emoções ditas essenciais ou básicas são tidas como tais mediante critérios e fatores de classificação que variam de autor para autor. Eméritos estudiosos deste assunto remontam ao filósofo americano William James (1884, quando definiu o que seja emoção). Desde então, até os nossos dias, respeitados pesquisadores, como António Damásio, Joseph Ledoux e Robert Zajonc investigaram as causas neurológicas para a deflagração das emoções. Já as teorias cognitivas nos apresentam a ideia de que as emoções ocorrem sempre sobre alguma coisa.. Convém mencionar, ainda, que as emoções não decorrem de aspectos fisiológicos, mas ao contrário, são elas que deflagram as variações fisiológicas e provocam mudanças comportamentais (Cannon e Baird). Neste último conceito, as emoções são a causa e as variações fisiológicas são efeitos daquela.

            A parte da medicina que estuda as emoções é a neurobiologia. Sob o ponto de vista dessa ciência (materialista), o investigador mais em evidência na atualidade é o Prof. António Damásio, autor de vários livros de divulgação de suas pesquisas. Um dos mais recentes livros desse autor tem o título de O erro de Descartes – Emoção, razão e o cérebro humano, publicado em 1996 e reeditado em 2004 pela editora Companhia das Letras – São Paulo – SP.

            Vamos apresentar, de modo sucinto, os pontos de vista a respeito da emoção, segundo a perpectiva do neurobiologista António Damásio, cientista português que reside nos Estados Unidos da América, onde é professor na Universidade de Iowa.  Ele é uma das sumidades atuais dedicadas ao estudo da consciência, das emoções e dos sentimentos e como elas se revelam em nosso cérebro. Sua preocupação tem sido responder três questões fundamentais, a saber: O que é a emoção? O que são os sentimentos? Como é que sentimos uma emoção?.

            Quando o Prof. Damásio realiza uma palestra, como a que foi proferida no ISPA – Instituto Superior de Psicologia Aplicada (Portugal), o auditório se apresenta com nada menos que 500 pessoas entre  alunos, professores e pesquisadores, principalmente da área da neurobiologia e comportamento humano. Esta palestra versou sobre a pergunta central que fez há muitos anos sobre o que é a emoção.. Para ele, “a emoção é essencialmente um programa de estratégias ativas e cognitivas”.

            De acordo com António Damásio, a emoção é sempre desencadeada por um determinado estímulo. Este, por sua vez, dá origem a “um programa de ações”, diferente conforme o tipo de emoção e que provocam alterações faciais, no corpo ou no sistema endócrino (estratégias ativas), como por exemplo, o enrubescimento do rosto, a tensão muscular, o aumento do rítmo cardíaco, a sudorese, etc., todas elas comprovadamente ações fisiológicas.

            Mas, diz ele, não basta pensar neste programa de estratégias ativas. Damásio sustenta que existem, também, as estratégias cognitivas, isto é, “certos estados mentais que fazem parte do programa completo de ações”. Ele nos oferece como exemplo “a tristeza, emoção que obriga a certa estratégia cognitiva”. A tristeza nos leva a pensar em coisas negativas e desagradáveis que causam sofrimento; jamais a tristeza vai nos levar a pensar em coisas agradáveis, como num jantar alegre e divertido. Continuando, ele nos assevera que "é sabido que é difícil uma atenção focalizada em momentos de extrema tristeza ou que durante emoções de medo possa haver uma capacidade de aprendizagem aumentada". Esta e outras complexidades permitem-lhe afirmar que este programa de ações é desencadeado por determinados estímulos que são diferentes para pessoas diferentes.

            Uma questão importante a considerar é a natureza dos estímulos. Estes podem ser objetos ou situações atuais ou existentes na mente, sendo que alguns são evolucionais e outros aprendidos individualmente Exemplos de estímulos evolucionais são os causadores da compaixão e do medo, já inseridos em nosso genoma.. De outro lado, contrariamente aos estudos evolucionais nós temos os estímulos que resultam de um processo de aprendizagem que atinge umas pessoas e outras não.

           

Os três tipos de emoções

 

            Damásio destaca em seus trabalhos de investigação a existência de três tipos de emoções: 1) as emoções de fundo, que são mais vagas, como o entusiasmo e o desencorajamento; 2) as emoções primárias, que são mais pontuais, como a tristeza, o medo, a raiva e a alegria; e, 3) as emoções sociais que provêm de um resultado sócio-cultural, como a compaixão, o orgulho e a vergonha.

O que são, então, os sentimentos?

            Ainda, segundo o próprio Damásio, os sentimentos são, de um lado, alterações do corpo que podem ser reais ou simuladas, e por outro, e por outro, estados alterados de recursos cognitivos. Aqui ele deixa espaço para os sentimentos simulados, afirmando que é possível o cérebro simular tais alterações sem que elas realmente estejam acontecendo.Passada a exposição da sua teoria sobre a emoção, António Damásio debruçou-se sobre o que são os sentimentos, explicando que são por um lado alterações do corpo que podem ser reais ou simuladas, e por outro estados alterados de recursos cognitivos.

            Ao analisar toda essa concepção, que resultou certamente de análise de imágens coloridas de tomografia computadorizada do cérebro mapeadas em numerosas situações de estudo, somos levados a crer, com todo respeito aos trabalhos do Prof. António Damásio, que se está estudando “os efeitos fisiológicos das emoções” e sua “conexão” com os estímulos provocadores desses efeitos, mas não a sua causa essencial que reside na alma ou espírito humano, segundo os ensinamentos do Racionalismo Cristão.