17) Esquecer-se de quem tenha praticado ofensas, traições e ingratidões.
As ofensas, traições e ingratidões são frutos da ignorância humana e da má educação das criaturas. Aqueles que têm boa educação, que são esclarecidos sobre as coisas sérias da vida, que estão sempre de bom humor e que são dotados do verdadeiro espírito de justiça não praticam tais veleidades, respeitam os seus semelhantes e, portanto, tratam a todos dentro dos verdadeiros princípios cristãos. O racionalista cristão deve procurar manter intransigente repulsa à intriga, à inveja, às atitudes dúbias, às traições e às ingratidões, enfim, a todas as ações indignas, praticadas por quem quer que seja.
A ofensa resulta do desrespeito às criaturas. Quem não procura colocar-se, já o dissemos, no lugar do seu interlocutor, nem que seja por um momentinho, não aprende a respeitá-lo e, mais que isso, ofende-o e despreza-o ao menor sinal de quebra de uma amizade, falsa amizade, portanto. O vínculo que já era fraco, rompe-se facilmente, dessa forma.
Já a traição é muito mais séria, sendo o oposto da lealdade. Esta só se encontra entre amigos verdadeiros, jóias raras no torvelinho dessa vida tumultuada e cheia de conflitos de interesses, movidos pela ambição desenfreada por dinheiro, poder e influência. A traição é como uma punhalada nas nossas costas, já que o traidor, normalmente está bem pertinho de nós e, por qualquer uma das causas apontadas nos trai. Como tantos outros, é conhecido o caso de Judas, que traiu Cristo, levando-o ao calvário. Quem ainda não passou por uma traição, levante a mão.
Todo aquele que pratica o bem, que ajuda as pessoas de toda e qualquer forma, e o faz de alma lavada, de boa vontade, não deve ficar aguardando por um agradecimento, pois as desilusões são próprias deste mundo. Isto para não passar por imerecidas ingratidões, que muitas vezes podem nos macular com o tão negativo sentimento de revolta. Não estou dizendo com isso para esperar o pior, pois nem todas as criaturas se portam dessa maneira. As pessoas nobres de caráter, reconhecidamente educadas e espiritualizadas externam gratidão ao menor favor ou ajuda que recebem. Estas exceções, obviamente, nos confortam.
Só depois de sofrer inúmeros desenganos e agravos, injustiças e ingratidões é que o ser mede, no mais íntimo de sua natureza espiritual, a extensão das misérias humanas, contra as quais se revolta, enojado dessas baixezas, o que o leva até a sentir repugnância.