O espírito, as dimensões e o tempo
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Caruso Samel
O ser espiritual no tempo. Segundo o livro essencial do Racionalismo Cristão conhecido como RC44, “o Espírito é inteligência, é poder criador e realizador”. Então, o que é ser espiritual? É ser, participar e pertencer ao Universo. É, pois, a forma mais simples e, ao mesmo tempo, a mais completa de ser o que se é de fato, em cada “momento”. Então, só o momento “conta”, porque o momento está sempre presente. Vivemos sempre o momento, estejamos ou não encarnados. Se vivemos cada momento e momento é tempo, cada momento vivido é um registro individualizado do ser no tempo e, portanto, de sua consciência no tempo. Se o tempo é eterno e ele é um registro de momentos individualizados (de cada partícula em evolução), em um registro eterno, a vida aí contada (registrada) só pode ser eterna. Mas, mesmo individualizado, teria sido sempre a mesma vida? É claro que sim, pois o espírito jamais morre. Como explicar esse aparente paradoxo? Pela evolução, que sempre tem um duplo sentido: evolui-se com o tempo (o espírito) e evolui-se com a matéria (evolução biológica, sempre do mais simples ao mais complexo, inclusive nos pensamentos e sentimentos). Daí por que somos sempre espirituais, estejamos vivendo fora da matéria (espírito) ou nela (a criatura humana). Esta é a síntese que define, ao mesmo tempo, o ser, a vida e a evolução. Esta trindade é íntegra e, no seu conjunto, constitui o objeto do Espírito.
As dimensões essenciais. Em sentido topológico, isto é, no puro sentido de uma posição estática, o conceito de dimensão nos é dado por números que caracterizam o lugar que um objeto ocupa no espaço. De acordo com as ideias mais simples e diretas, cabe-nos considerar a existência de três dimensões, que podem ser definidas por simples intuição geométrica, como, a seguir, explicamos, partindo de um ponto ideal, que tem dimensão zero.
1. Curiosamente, como vimos, antes da primeira dimensão, temos a dimensão zero, que é representada por apenas um ponto ideal. Conectando-se dois pontos quaisquer por meio de um segmento de reta, vamos formar a primeira dimensão. Reparem que o nosso conceito de largura advém dessa conexão entre dois pontos quaisquer.
2. Deslocando-se a linha reta ao longo de si mesma, obtemos o plano que representa a segunda dimensão. Para ser considerado bidimensional, um objeto precisa ter dois valores numéricos que correspondem ao nosso conceito de comprimento e largura. Assim, a indicação de uma superfície simples é feita por, digamos, abstraindo-nos do sistema de medidas, 20 x 10, sendo o primeiro número o comprimento e o segundo, a largura.
3. Para completarmos a definição de um objeto no espaço ou definirmos o seu tamanho, precisamos da terceira dimensão. O que isto significa? Isto significa que o objeto é dotado de profundidade ou espessura, determinando, assim, o conceito de volume. Por isso, dizemos que um objeto é tridimensional quando precisa de três valores numéricos (comprimento, largura e profundidade ou espessura) para ser definido o seu tamanho. Na prática, indicamos as três dimensões, por exemplo, por 20 x 10 x 5, números estes que representam o comprimento, a largura e a altura. Observem que, com três dimensões, tanto podemos indicar o tamanho como a posição de um objeto no espaço, esta última usando um sistema de coordenadas referenciado a um determinado local na Terra ou no Universo. Sem mais complicações, podemos dizer que, com três dimensões, podemos responder à pergunta topológica “onde” está situado um determinado objeto ou definir o seu tamanho.
4. Como o Universo – e tudo que nele existe – não é estático, mas, sim, dinâmico (tudo se movimenta), para completar o quadro das dimensões essenciais está faltando introduzir a quarta dimensão, que é a duração de um acontecimento ou o tempo. Trata-se aqui de uma dimensão temporal. Embora se trate de unidades (linear e temporal) não conversíveis entre si, elas estão intimamente relacionadas pelo movimento. Até aí nada demais. A novidade surgiu quando, em 1905, Albert Einstein introduziu o tempo em suas equações da Relatividade Restrita, utilizando um sistema de referências de quatro dimensões. E, como é difícil representar graficamente quatro dimensões, ele decidiu tratar espaço e tempo como uma entidade única, chamando-a de “continuum” espaço-tempo ou, simplificadamente, espaço-tempo. Estava, assim, criado o conceito que ficou conhecido como a quarta dimensão, não importando chamá-la simplesmente de tempo ou de espaço-tempo. É o que veremos a seguir, ao descrevermos a dimensão tempo na prática.
Vamos considerar, agora, o relacionamento objetivo entre espaço e tempo. Na prática, os objetos reais só podem ser localizados se não tivermos pelo menos três medidas, conhecidas como coordenadas identificadoras do objeto no espaço. Vamos supor, então, que temos sobre uma mesa um pequeno aquário de formato cúbico construído de vidro, com uma pequena bolha de ar estática no seu interior, com suas quatro faces laterais voltadas para o norte, sul, leste e oeste. Para identificarmos a posição da bolha de ar, temos que medir a que altura ela está da superfície da mesa (nosso referencial) e quanto dista da face norte e da face leste, por exemplo. Isso nos dá a posição exata da bolha, porque só um único ponto dentro do cubo corresponde às três medidas. Você pode usar outro método, mas será sempre necessário tirar pelo menos três medidas para localizar um determinado ponto em qualquer espaço. É por isso que dizemos que o espaço é tridimensional.
Consideremos, agora, um peixinho nadando nesse aquário. Você poderá localizar nele esse peixinho, tirando as três medidas. Se você, contudo, olhar para o ponto indicado pelas medidas, o peixinho talvez não esteja mais lá no mesmo lugar, podendo ter nadado, mudando de lugar depois que as medidas foram tiradas. Portanto, não apenas as distâncias espaciais devem ser definidas, mas também o tempo. Assim você poderá dizer exatamente onde o peixinho estava e quando esteve ali.
Vemos, então, que basta o uso de três dimensões para definir algo imóvel, estático e inalterável. Entretanto, assim que ocorra qualquer movimento, a medida do tempo se torna também indispensável para que se possa localizá-lo no seu universo chamado aquário. Daí porque o Universo, como o conhecemos, não é tridimensional, mas quadridimensional, pois nele tudo está continuamente em movimento.
No próximo artigo vamos falar do tempo e das dimensões previstas pela Teoria das Supercordas, que em sendo incluída elevará o número de dimensões para onze. Pasmem!
(O autor é escritor, militante da Filial Butantã, São Paulo-SP)